Uma nova forma de monitorar as variantes do vírus da gripe está sendo aplicada em São Paulo. Cientistas do Instituto Pasteur de São Paulo (IPSP) criaram, em julho deste ano, um grupo de trabalho para acompanhar o avanço da influenza por meio de amostras do esgoto da cidade.
O método é uma forma mais rápida e abrangente de acompanhar as mutações de vírus. Ele já é utilizado em mais de 100 países e 293 universidades e mostrou-se muito eficaz durante a pandemia de Covid-19.
A iniciativa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e está prevista para durar entre quatro e cinco anos.
Amostras de esgoto de SP fornecerão dados sobre variantes do vírus da gripe
Atualmente, é a Rede Global de Vigilância de Influenza da Organização Mundial da Saúde (OMS) que monitora variantes da gripe por meio de análises laboratoriais.
No entanto, esse método depende da testagem de casos suspeitos, o que gera limitações na coleta de dados rápidos.
Desde julho, pesquisadores do IPSP estão aplicando uma forma mais ágil de monitorar mutações do vírus em São Paulo.
O método consiste em coletas periódicas de amostras de esgoto, que fornecem informações sobre novas cepas em circulação e os perigos que elas representam.
Além disso, é possível prever quando ocorrerá o pico de transmissão de um determinado vírus.
As coletas são feitas de forma contínua e fornecem dados em tempo real, não apenas sobre períodos de maior circulação de um vírus.
O método também permite uma cobertura mais ampla da população, já que nem todos têm acesso de qualidade ao sistema de saúde.
Método ajudará no desenvolvimento de vacinas mais eficazes
O Ministério da Saúde disponibiliza imunizantes contra três tipos de cepas do vírus influenza no Brasil, os mais comuns no hemisfério Norte e Sul. No entanto, as cepas da gripe sofrem mutações rapidamente, e nem sempre a vacina acompanha essas mudanças, sendo eficaz contra todas elas.
O principal objetivo do projeto de monitoramento viral do esgoto é identificar essas variantes e entender quais devem ser os alvos de novos imunizantes. Todos os dados coletados nas amostras serão repassados para as autoridades de saúde pública responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas.
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A equipe do IPSP também pretende criar uma plataforma de vacina baseada em RNA auto-replicativo. Trata-se de uma tecnologia que, em vez de usar uma grande quantidade de RNA para gerar uma resposta imune, utiliza um mecanismo que faz o RNA se replicar várias vezes dentro do corpo, semelhante ao que fazem alguns vírus, como o chikungunya.
Essa técnica aumenta a eficácia da vacina e faz com que ela dure mais tempo no organismo, além de permitir que seja produzida mais rapidamente. O biomédico responsável pelo projeto, Rúbens Alves, já trabalhou com essa tecnologia durante seu pós-doutorado nos Estados Unidos, onde ajudou a desenvolver vacinas contra doenças como Covid-19, dengue e zika.
A vantagem dela é o fato de necessitar uma menor quantidade de RNA e de criar respostas imunológicas mais prolongadas, o que resulta em um aumento da eficácia do imunizante e na redução dos efeitos colaterais. Há também um aumento da velocidade com que a vacina pode ser produzida.
Rúbens Alves ao portal da FAPESP.
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