O Brasil foi um dos membros fundadores da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, e é o país que abre os discursos da Assembleia-Geral desde 1947.
Não há um motivo formal para isso, mas, no meio diplomático, a deferência é ao importante trabalho do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, que presidiu a assembleia naquele ano.
Há ainda a tese de que o Brasil foi escolhido para abrir os trabalhos para evitar tensões entre os Estados Unidos e a então União Soviética, que começavam a ter uma relação conturbada durante a Guerra Fria. O Brasil era um país neutro.
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A primeira vez que um presidente brasileiro abriu os discursos foi em 1982, com o último mandatário da ditadura militar, João Figueiredo.
Até então, as falas eram feitas por embaixadores e ministros das Relações Exteriores. Assim como nos anos em que os presidentes que estavam em exercício optaram por não realizar a abertura.
Desde 1955, o Brasil foi o primeiro a falar e os Estados Unidos, o segundo, com algumas exceções:
Nas 38ª (1983) e 39ª (1984) sessões, os Estados Unidos falaram primeiro, e o Brasil, em segundo;
Na 71ª sessão, em 20 de setembro de 2016, o Chade falou em segundo lugar devido ao atraso na chegada do presidente dos Estados Unidos;
e na 73ª sessão, em 25 de setembro de 2018, o Equador falou em segundo lugar devido ao atraso na chegada do presidente dos Estados Unidos.
Veja, a seguir, como foram os discursos dos presidentes brasileiros na ONU:
1982 – João Figueiredo
João Figueiredo abriu seu discurso abordando a esperança que tinha da sessão da Assembleia-Geral contribuir para a solução de conflitos que abalavam a paz e a segurança internacional, além da superação das ameaças à estabilidade da economia mundial.
“Há algumas décadas, uma depressão econômica sem precedentes e tensões políticas incontroladas levaram a uma guerra catastrófica. A sociedade de Estados soberanos resolveu então criar, em 1945, uma vasta rede de instituições, destinadas à cooperação entre os Estados, para evitar a repetição de crises econômicas de tal profundidade, promover o desenvolvimento econômico e social, aliviar as tensões políticas e poupar as gerações seguintes do flagelo da guerra”, disse Figueiredo.
O brasileiro criticou a ONU, que em sua visão passava por uma transformação, virando palco de confrontos sem soluções. Ainda disse que as relações entre os países dependiam, inevitavelmente, do arbítrio de Estados mais poderosos que “se contrapõe à causa da liberdade e da justiça entre as nações e entre os homens”.
Com isso, reiterou o compromisso do Brasil de fazer da organização um centro de “harmonização das ações dos Estados”.
Pedido de paz
Figueiredo fez uma conclamação pela paz mundial, lançando um apelo aos países para que se dedicassem a isso.
“Não há, nem pode haver, futuro no triste e inaceitável sucedâneo que é o equilíbrio do terror. Não é possível persistirmos na ilusão de que a harmonia mundial poderá alicerçar-se no excesso de capacidade de destruição.”
Em sua visão, os diversos anos de tentativas de negociação não impediram o aumento e aperfeiçoamento de armas nucleares.
Expressou ainda sua apreensão com a crise no Oriente Médio, que tinha como centro o conflito entre Iraque e o Irã e as ações militares de Israel no Líbano.
“Ainda recentemente, a opinião mundial ficou profundamente chocada com a massacre de civis palestinos em Beirute. Sabemos todos que a questão do Oriente Médio só encontrará solução quando forem desocupados os territórios árabes hoje sob ocupação militar e for reconhecido o direito do povo palestino a um Estado soberano, assim como o direito de todos os países da região, inclusive Israel, a viverem em paz, dentro de fronteiras reconhecidas.”
O Brasil, em sua fala, via com grave preocupação a transferência para regiões menos desenvolvidas das tensões dos conflitos entre as superpotências.
Também reiterou os esforços de seu governo para uma solução política para o conflito entre a Argentina e o Reino Unido nas Ilhas Malvinas.
“O Brasil reconhece hoje, como desde o início desta controvérsia, no ano de 1833, os direitos soberanos da República Argentina sobre as Ilhas Malvinas e defende, como sempre fez, a necessidade da realização de negociações como meio adequado para a solução desse problema”, declarou.
E, pediu, à Assembleia-Geral que agisse para implementar a paz no caso.
“É tempo de que os que com tanto vigor condenaram o emprego da força para a solução de controvérsias demonstrem a coerência e a autenticidade de seus propósitos.”
Figueiredo justificou que a gravidade dos conflitos internacionais que levaram, pela primeira vez, um presidente brasileiro até a ONU.
“Nunca, na história da Organização, foram tão sérios os riscos e ameaças à paz, à segurança e ao progresso das nações. Nunca foram tão grandes e tão importantes os desafios.”
1985 – José Sarney
Primeiro presidente após a ditadura, José Sarney iniciou seu discurso em 1985 citando versos do poeta Bandeira Tribuzi, pseudônimo do também maranhense José Tribuzi Pinheiro Gomes: “Que tempo de viver-se!/Que sonho raro/Será mais puro e belo e mais profundo do que esta viva máquina do Mundo?”
O chefe do Executivo disse orgulhar-se de ser um escritor “em que o gosto da palavra não confinou o espírito na expressão da obra estética”. Conforme explicou, literatura e política eram “vertentes a obrigar uma visão social e humanista do universo”.
Sarney, cujo mandato à frente da Presidência da República havia se iniciado seis meses antes, declarou que “foi no bojo de uma tragédia e espanto” – a morte de Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito em 21 anos de ditadura militar – que ele se encarregou da chefia da nação.
“Nossa determinação, coragem e resignação foram tão fortes que suportamos a perda do nosso herói, Tancredo Neves, na noite em que clareiam os nossos céus em festa os fogos da vitória”, afirmou Sarney.
Na visão do presidente, o “instrumento” que havia permitido ao Brasil livrar-se do autoritarismo em direção à democracia fora “a capacidade de conciliar e de entender, sem violência e sem traumatismos”.
Inflação, dívida externa e crescimento econômico
Com uma inflação anual que ultrapassava os 200% no Brasil, Sarney fez questão de discutir os problemas econômicos enfrentados não só pelo país, mas por boa parte dos vizinhos na América Latina.
“Esmagados sob o peso de enorme dívida externa, vivem os países da região um quadro de graves dificuldades, cujas repercussões internar se traduzir em recessão, desemprego, inflação, aumento da miséria e violência”, expôs o presidente.
Além disso, Sarney criticou os organismos internacionais por proporem “políticas de ajustamentos inadequadas” para o pagamento dos juros da dívida externa. O presidente chegou a apontar, inclusive, o risco que a cobrança dos credores impunha às democracias da América Latina.
“O Brasil não pagará a dívida externa nem com a recessão, nem com o desemprego, nem com a fome. Temos consciência de que, a pagar essa conta, com estes altos custos sociais e econômicos, teríamos em seguida de abdicar da liberdade, porque débito pago com miséria é conta paga com a democracia”, justificou o presidente.
Crítica ao apartheid sul-africano
A discriminação racial também esteve entre os tópicos abordados por Sarney na ocasião. O presidente aproveitou a oportunidade para condenar o apartheid – regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1994.
“Reitero solenemente nossa total condenação ao apartheid e nosso apoio sem reservas à emancipação da Namíbia [à época ocupada pela África do Sul], sob a égide das Nações Unidas”, declarou Sarney.
O chefe do Executivo clamou que a ONU promovesse uma ofensiva contra os “resíduos do racismo” na Terra.
“O racismo é contra a humanidade e contra o futuro. O racismo, um colonialismo diferente, amoral e perverso, não pode manchar a página de ouro da descolonização”, concluiu Sarney.
1989 – José Sarney
Às vésperas das primeiras eleições presidenciais diretas em quase três décadas, Sarney voltou à tribuna da ONU em Nova York, em 1989, e ressaltou a elaboração da Constituição Federal de 1988.
“Promovemos eleições em 1985 e 1986. Em 1987, instalamos uma Assembleia Nacional Constituinte. Elaboramos uma nova Constituição. Tivemos eleições em 1988. E, em 15 de novembro deste ano, vamos eleger o meu sucessor. Tudo isso dentro de um clima de paz e de ordem, harmonizando sempre a efervescência de aspirações finalmente liberadas”, disse o presidente.
Sarney celebrou o fim de regimes autoritários espalhados pela América do Sul e, na ocasião, afirmou ter se tornado um “andarilho” da causa democrática.
“É latino-americana a maior onda de democratização que o mundo conheceu desde o último pós-guerra. Estou convencido de que a democracia é o caminho. Ela foi a bandeira que comandou nossos povos para varrer autoritarismos, caudilhos, tiranos, ditadores”, declarou o presidente.
“É preciso ousar”, pediu Sarney ao debater problemas globais
Ao discutir propostas para resolução de problemas enfrentados em escala global, Sarney disse que era preciso ousar e fez menção ao poeta português Fernando Pessoa: “Se ousares, ousa”.
“Proponho que as Nações Unidas se comprometam em processo de diálogo amplo e total sobre os grandes problemas deste final de século, a fim de que entrássemos no século XXI com a consciência dos nossos desafios e das nossas potencialidades.”
Na sequência, Sarney mencionou temas como desarmamento, meio ambiente, banimento de armas químicas, reformas econômicas, erradicação da pobreza, entre outros.
“Atuemos antes que seja tarde. Antes que os sacrifícios e as frustrações se cristalizam em revoltas. Antes que, em sua autocomplacência, os satisfeitos se tornem insensíveis às justas demandas dos que pouco ou nada têm”, pediu Sarney.
“Sejamos capazes de transformar a realidade mediante o poder criativo das ideias. Convocamos todos para esta tarefa. E, em primeiro lugar, as grandes potências. Não é tarde para resgatar o sonho de paz e justiça das gerações que nos precederam”, destacou o presidente.
1990 – Fernando Collor
Primeiro presidente eleito pelo voto popular após a redemocratização, Fernando Collor começou seu discurso exaltando o fim da guerra fria entre Estados Unidos e a União Soviética.
Em suas palavras, o encerramento “significou a liquidação de uma herança amarga de desilusões, confrontos e riscos para a própria sobrevivência da humanidade”.
A diminuição das tensões internacionais, para Collor, tornou clara a compreensão de um destino comum, do caráter global das relações dos homens entre si com o meio ambiente.
Mas o sentimento de euforia com o fim da guerra fria não podia permanecer, devido a outros conflitos que se abatiam pelo mundo e a gravidade dos problemas econômicos que recomendavam certa reserva.
Transformações no Brasil
Em sua fala, Collor ressaltou as transformações que o Brasil passava, principalmente após sua eleição, que colocaram o país na rota da democracia absoluta e definitiva, da abertura econômica e da justiça social.
“Eleito por meus concidadãos, no mais livre dos pleitos de nossa história, assumi amplas responsabilidades pessoais e políticas perante os 150 milhões de brasileiros”, citou.
Para o então presidente, seu mandato tinha como objetivo promover a rápida modernização e a plena integração do país na economia internacional, para “torná-lo competitivo e para que sua gente alcance os níveis de bem-estar a que seu talento e operosidade lhe dão direito”.
Com isso, revelou que seu compromisso seria:
recuperar o Estado e a sociedade;
garantir o funcionamento das instituições democráticas;
reestruturar e revitalizar a economia;
derrotar a inflação;
liberar as forças criadoras da iniciativa privada;
e combater a miséria.
Retomada da democracia
À época, para Collor, a partir das transformações, o pessimismo desaparecia e o autoritarismo estava condenado.
“Afirma-se uma atitude política e psicológica baseada no avanço concreto rumo à liberdade, à democracia e ao melhor diálogo entre as nações.”
Collor ainda conclamou que nenhum país poderia se excluir ou ser excluído dos debates sobre a ordem mundial.
“Na América Latina chegamos, com dificuldade, a um estágio avançado de construção democrática e de respeito aos direitos humanos, avanços de que nos orgulhamos e que nos dão renovado ânimo.”
Na região, ele dizia que mulheres, homens e os jovens cobravam novas energias e esperança, com a América Latina voltando a fazer jus aos sonhos libertários e se reconciliando com a vocação democrática, após a queda de diversos regimes ditatoriais.
Na África, o presidente celebrava a queda do passado colonialista e o recuo do segregacionismo e do racismo. Saudou a independência da Namíbia, que o Brasil “sempre esteve solidário”, e a libertação de Nelson Mandela, líder sul-africano que havia ficado 27 anos preso.
“As Nações Unidas encontram-se diante da tarefa da construção de uma nova estrutura de paz e prosperidade. Não mais se pode imaginar um mundo cronicamente dividido em metades que se hostilizam. Nem a ideologia, nem a pobreza podem continuar a separar os seres humanos.”
1991 – Fernando Collor
Fernando Collor começou seu último discurso como presidente na Assembleia-Geral, celebrando o privilégio de viver numa época de afirmação universal das liberdades e dos direitos individuais, do pluralismo, do repeito à vontade da maioria, da proteção das minorias e da livre-iniciativa econômica.
“São conquistas de uma época cansada de conflitos e arbitrariedades; são conquistas que exaltam um fato essencial – as aspirações coletivas sempre prevalecem, cedo ou tarde, sobre os desejos dos grupos que se aferram a privilégios.”
Além disso, chamou a atenção para graves problemas, como o desafio de reordenação do mundo, de construção de uma paz “que não dependa da permanente ameaça da guerra”.
Mesmo com o fim da Guerra Fria, para Collor sobrevivam focos de tensão que precisam ser destruídos.
“Conhecemos os caminhos para alcançar a prosperidade e a melhor distribuição de seus frutos.”
Com o fim da União Soviética, para o então presidente o ideário libertário havia vencido e deveria haver uma luta “para que se imponha de forma coerente, ampla e, sobretudo, inovadora”, a corrente política e econômica que defendia.
“Essa é uma observação que faço da perspectiva de um país que optou por uma plataforma liberal com um claro sentido social – o social-liberalismo –, de uma sociedade que há dezoito meses se esforça para realizar esse ideário.”
Mas, mesmo com a vitória do liberalismo, a comunidade internacional deveria dedicar atenção política aos problemas de desenvolvimento.
“Assim como ninguém pode sentir-se seguro diante da possibilidade da guerra nuclear, ninguém pode julgar-se em segurança e paz num planeta em que pobres e marginalizados aumentam, dramaticamente, em número e extensão.”
Desafios
Para Collor, a comunidade internacional tinha diante de si três grandes desafios:
o desafio econômico do desenvolvimento;
o desafio político da paz;
e o desafio ético de assegurar uma vida digna a todos.
“São desafios que não podem ser vencidos em separado – devem ser enfrentados conjunta e simultaneamente. São desafios a serem superados democraticamente, com a participação de todos. São, no fundo, desafios à nossa capacidade de elevar a solidariedade ao primeiro plano das relações internacionais.”
A paz no mundo, em sua opinião, passava diretamente pela pacificação do Oriente Médio.
“O grande sonho de uma região onde todos possam viver em paz, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas, encontrar-se-á com a realidade no respeito aos direitos do povo palestino e no desarme de espíritos em relação a Israel.”
2001 – Fernando Henrique Cardoso
Falando pela primeira vez na Assembleia-Geral da ONU após sete anos de mandato, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) abriu seu discurso falando dos ataques terroristas de 11 de Setembro, em Nova York, nos Estados Unidos.
“A ação mais contrária ao diálogo e ao entendimento entre os homens marcou o mês de setembro em Nova York, como também em Washington: a violência absurda de um golpe vil e traiçoeiro dirigido contra os Estados Unidos da América e contra todos os povos amantes da paz e da liberdade.”
Para FHC, o ataque foi uma agressão inominável para a cidade, que em sua opinião, era o maior símbolo de uma visão cosmopolita, que sempre acolheu pessoas de todas as partes do mundo.
“Nova York cresceu, prosperou e firmou-se dentro dos valores do pluralismo. Fez-se grande e admirada não só por sua herança judaica, anglo-saxã, mas também pela presença árabe, latina, africana, caribenha e asiática.”
Os atentados foram uma agressão a todas essas tradições e, a partir disso, o presidente brasileiro demonstrou novamente sua solidariedade e apoio aos norte-americanos em sua reação ao terrorismo.
“O terrorismo é o oposto de tudo o que a ONU representa. Destrói os princípios de convivência civilizada. Impõe o medo e compromete a tranquilidade e segurança de todos os países.”
E, a partir disso, defendeu que a Carta das Nações Unidas garante que os seus Estados membros tenham o direito de agir em autodefesa. Entretanto, disse que o êxito na luta contra o terrorismo não poderia estar apenas disso.
“O compromisso das Nações Unidas, em 1945, foi o de trabalhar para fundar a paz e preservar as gerações futuras do flagelo da guerra. A guerra tem sempre um pesado custo humano. Um custo em vidas interrompidas, em vidas refugiadas e amedrontadas. Tudo isso realça a responsabilidade dos terroristas pelo que sucede hoje.”
2003 – Luiz Inácio Lula da Silva
Em sua primeira fala na ONU como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu seu discurso com uma homenagem ao diplomata brasileiro Sérgio Viera de Mello, que morreu após ser vítima de um atentado à missão da organização em Bagdá, no Iraque, naquele ano.
“A reconhecida competência de Sérgio nutria-se das únicas armas em que sempre acreditou: o diálogo, a persuasão, a atenção prioritária aos mais vulneráveis.”
Lula conclamou que os enormes desafios políticos, econômicos e sociais que mundo enfrentava exigiam um esforço acelerado para a reforma da ONU, para que suas decisões passassem “a ser de fato respeitadas e eficazes”.
Para o presidente, os conflitos no Oriente Médio só seriam resolvidos a partir do esforço de todos os países, com as Nações Unidas exercendo um papel central.
“Não podemos fugir a nossas responsabilidades coletivas. Pode-se talvez vencer uma guerra isoladamente. Mas não se pode construir a paz duradoura sem o concurso de todos.”
11 de Setembro
Após dois anos, Lula afirmava que as memórias dos ataques de 11 de Setembro em Nova York, nos Estados Unidos, ainda estavam vivas na memória de todos.
E, que com isso, existia a disposição para se adotar formas mais efetivas de combate ao terrorismo, às armas de destruição em massa e ao crime organizado.
Entretanto, na opinião de Lula, existia uma tendência de desacreditar a ONU e até mesmo tirar sua autoridade política.
“A ONU não foi concebida para remover os escombros dos conflitos que ela não pôde evitar por mais valioso que seja o seu trabalho humanitário. Nossa tarefa central é preservar os povos do flagelo da guerra.”
Segundo Lula, não era possível confiar mais na ação militar do que nas instituições criadas “com a visão da história e aluz da razão”.
A partir disso, a reforma da ONU se tornava necessária para lidar com o retrocesso político internacional.
Em sua opinião, era necessário que o Conselho de Segurança estivesse plenamente equipado para enfrentar crises e lidar com as ameaças à paz.
“É indispensável que as decisões deste Conselho gozem de legitimidade junto à Comunidade de Nações como um todo. Para isso, sua – em especial no que se refere aos membros permanentes – composição não pode ser a mesma de quando a ONU foi criada há quase sessenta anos.”
Combate à fome
Lula disse que era necessário o engajamento em uma guerra onde todos sairiam vencedores: contra a fome e a miséria.
“Erradicar a fome no mundo é um imperativo moral e político. E todos sabemos que é factível. Se houver – de fato – vontade política de realizá-lo.”
A fome, em sua visão, deveria ser vista como uma emergência e assim deveria ser tratada. E a sua erradicação seria uma tarefa civilizatória.
A fome é uma emergência e como tal deve ser tratada. Sua erradicação é uma tarefa civilizatória, que exige um atalho para o futuro. Vamos agir para acabar com a fome ou imolar nossa credibilidade na omissão? Não temos mais o direito de dizer que não estávamos em casa quando bateram à nossa porta e pediram solidariedade. Não temos o direito de dizer aos famintos que já esperaram tanto: passem no próximo século
Luiz Inácio Lula da Silva
2004 – Luiz Inácio Lula da Silva
Em seu segundo discurso, Lula começou sua fala expondo a desigualdade entre os países.
“Em 1820, a diferença de renda per capita entre o país mais rico e o mais pobre do planeta era inferior a cinco vezes. Hoje, essa diferença é de oitenta vezes. Os antigos súditos converteram-se em devedores perpétuos do sistema econômico internacional.”
De acordo com o presidente, barreira protecionista e outros obstáculos ao equilibro comercial, com agravo da concentração dos investimentos do conhecimento e da tecnologia, substituíram o domínio colonial.
Uma engrenagem invisível, poderoso e onipresente, comandava à distância o novo sistema, segundo Lula.
“Não raro, ela revoga decisões democráticas, desidrata a soberania dos Estados, sobrepõe-se a governos eleitos, e exige a renúncia a legítimos projetos de desenvolvimento nacional. Manteve-se a lógica que drena o mundo da escassez para irrigar o do privilégio.”
A globalização excludente aprofundou o legado devastador da miséria e regressão social, que explode na agenda do século 21, para Lula. “Hoje, em 54 países a renda per capita está mais baixa do que há dez anos. Em 34 países, a expectativa de vida diminuiu. Em 14, mais crianças morrem de fome.”
Da crueldade não nasce o amor. Da fome e da pobreza jamais nascerá a paz. O ódio e a insensatez que se alastram pelo mundo nutrem-se dessa desesperança, da absoluta falta de horizontes para grande parte dos povos
Luiz Inácio Lula da Silva
Perda da luta pela paz
Lula afirmou que a humanidade estava perdendo a luta pela paz.
Isso aconteceria devido tragédias em todo mundo, com mais de 1.700 pessoas mortas após vítimas de ataques terroristas, como em Madri, Bagdá e Jacarta, até aquele momento em 2004.
“Tragédias que vêm somar-se a tantas outras, na Índia, no Oriente Médio, nos Estados Unidos, e, recentemente, ao sacrifício bárbaro das crianças de Beslan.”
Segundo o presidente, apenas os valores do humanismo, praticados com lucidez e determinação, poderiam deter a barbárie, com a situação exigindo dos povos e seus líderes, novo senso de responsabilidade individual e coletiva.
“Se quisermos a paz, devemos construí-la. Se quisermos de fato eliminar a violência, é preciso remover suas causas profundas com a mesma tenacidade com que enfrentamos os agentes do ódio.”
No decorrer de sua fala, Lula ainda voltou a conclamar o pedido de paz para o Oriente Médio.
“Neste, como em outros conflitos, a comunidade internacional não pode aceitar que a violência proveniente do Estado, ou de quaisquer grupos, se sobreponha ao diálogo democrático. O povo palestino ainda está longe de alcançar a autodeterminação a que tem direito.”
A partir disso, citou que o Brasil e outros países da América Latina aceitaram a convocação da ONU para contribuir para a estabilização do Haiti. “Quem defende novos paradigmas nas relações internacionais, não poderia se omitir diante de uma situação concreta.”
“Sempre que chamado, e na medida de nossas possibilidades, o Brasil tem contribuído para a superação de crises que ameaçam a ordem constitucional e a estabilidade de países amigos.”
2005 – Luiz Inácio Lula da Silva
Em sua terceira fala na Assembleia-Geral, Lula começou celebrando a aprovação das Metas do Milênio – conjunto de oito metas estabelecidas pela ONU para combater a pobreza e outros problemas sociais.
“Sua aprovação representou, sem dúvida, uma vitória dos valores de solidariedade humana sobre as doutrinas então predominantes no mundo, de indiferença moral e omissão política perante os excluídos.”
Para o presidente, as metas representam um estágio superior da consciência coletiva e se baseiam na convicção da necessidade de combater as desigualdades, respeitando e valorizando as diferenças.
Ainda expressam uma visão substantiva da democracia, em que os direitos políticos, para serem efetivos, não pode estar longe dos direitos econômicos, sociais e culturais.
“Afirmam a necessidade de expandir a produção de riquezas, mas universalizando os seus benefícios; e de fazê-lo sem eliminar as fontes da vida, mas protegendo-as e renovando-as.”
Entretanto, Lula ponderou que na maioria dos países não haveria o cumprimento das metas com os modelos de financiamento até então vigentes, que limitam os fluxos de ajuda. Para mudar isso seria necessário agir com “maior presteza e ousadia”.
A partir disso, o presidente destacou medidas que estavam sendo tomadas no Brasil.
Como o combate a fome, com o programa Fome Zero, que tinha o Bolsa Família como seu principal instrumento, atendendo 7,5 milhões de famílias.
A geração de emprego e renda, com a criação de 3,2 milhões de postos de trabalho formais e outras centenas na agricultura familiar.
O programa de cotas étnicas que possibilitou a entrada na universidade de negros e indígenas de baixa renda vindos da escola pública.
“O Brasil está se transformando num país cada vez mais produtivo e solidário e cada vez mais disposto a somar forças com nações de todos os quadrantes para que as Metas do Milênio sejam de fato atingidas em benefício dos pobres do mundo e de toda a humanidade.”
2006 – Luiz Inácio Lula da Silva
Em sua última fala durante o primeiro mandato, Lula começou fazendo um balanço de seus quase quatro anos no governo.
“Ao falar pela primeira vez desta tribuna, em 2003, afirmei a necessidade de agirmos com urgência para combater o flagelo da fome e da pobreza no mundo. É o que estamos fazendo no Brasil. Aliamos crescimento e estabilidade econômica a políticas de inclusão social.”
O presidente destacou que o nível de vida dos brasileiros melhorou; houve crescimento do emprego e renda, com o aumento do poder de compra do salário mínimo.
Voltou a trazer os resultados do Bolsa Família, que garantiu uma renda mínima para mais de 11 milhões de brasileiros. “Com boa alimentação, as pessoas recuperam sua dignidade, têm mais saúde e aprendem melhor.”
De acordo com o chefe do Executivo, a destinação de recursos para a área social “não é gasto, é investimento”. E pediu para que o exemplo brasileiro fosse levado para o restante do mundo, se o combate à fome e à pobreza fossem, de fato, uma prioridade da comunidade internacional.
“Onde existe a fome não há esperança, há desolação e dor. A fome alimenta a violência e o fanatismo e um mundo de famintos nunca será um lugar seguro.”
Lula cobrou a comunidade internacional para cumprir as Metas de Desenvolvimento do Milênio no prazo, em que trouxe o valor de R$ 50 bilhões de dólares adicionais para isso. E ainda disse que eram gastos valores maiores em guerras pelo mundo.
“Todos aqui sabem que cerca de 840 milhões de seres humanos, quase um em cada sete habitantes do Planeta, não têm o suficiente para comer. “
Ainda pediu para que os países ricos não se iludissem, porque por mais fortes que hoje sejam, pois ninguém está seguro num undo de injustiças.
“A guerra jamais trará segurança, a guerra só gera monstros, rancor, a intolerância, o fundamentalismo e a negação destrutiva das atuais hegemonias.”
Ainda conclamou ser necessário dar aos pobres razão para viver, não para matar ou morrer.
A grandeza dos povos não está no belicismo, mas no humanismo. E não há verdadeiro humanismo sem o respeito ao outro, ao que é, sim, diferente de nós, mas nem por isso menos digno, menos precioso, nem por isso com menos direito à felicidade, criatura que somos do mesmo criador. Só haverá segurança no mundo se todos tiverem direito ao desenvolvimento econômico e social
Luiz Inácio Lula da Silva
Críticas à ONU
Lula ainda fez críticas para a atuação da ONU.
Para o presidente, a crise no Líbano em 2006 expôs a organização a “uma perigosa erosão de credibilidade”. E disse que a eficácia das Nações Unidas estava sendo seriamente questionada.
“O Conselho de Segurança é acusado de morosidade, incapacitado de agir com a rapidez requerida. A opinião pública mundial se mostra impaciente diante de dificuldades que custa a entender. A morte de civis inocentes, incluindo mulheres e crianças, choca a nossa sensibilidade”
Segundo o chefe do Executivo, o interesse do Brasil no Oriente Médio refletia uma realidade social objetiva e profunda no próprio país, em que milhões de árabes e israelitas convivem de maneira harmônica e integrada.
O tema do Oriente Médio sempre foi tratado com exclusividade, além dos diretamente envolvidos pelas grandes potências. Até hoje não chegaram a uma solução. Cabe perguntar: não seria o momento de convocar uma ampla conferência sob a égide das Nações Unidas, com a participação de países de região e outros que poderiam contribuir pela capacidade de experiência em conviver pacificamente com as diferenças? O Brasil acredita no diálogo
Luiz Inácio Lula da Silva
2007 – Luiz Inácio Lula da Silva
Na ONU pela primeira vez em seu segundo mandato, Lula abriu seu discurso falando sobre as mudanças climáticas, afirmando ser importante que a discussão sobre o tema aconteça dentro da organização.
“Não nos iludamos: se o modelo de desenvolvimento global não for repensado, crescem os riscos de uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes.”
Para o presidente brasileiro, era preciso reverter a lógica aparentemente “realista e sofisticada”, mas que, na verdade, era “anacrônica, predatória e insensata”, para a multiplicação do lucro e da riqueza a qualquer preço.
No decorrer da fala, ele afirma haver preços que a humanidade não pode pagar, sob a pena de destruir as fontes materiais e espirituais da existência coletiva, e a si mesma. “A perenidade da vida não pode estar à mercê da cobiça irrefletida.”
Mesmo assim, afirmou que o mundo não mudaria sua relação irresponsável com a natureza sem modificar a natureza das relações entre o desenvolvimento e a justiça social.
“Se queremos salvar o patrimônio comum, impõe-se uma nova e mais equilibrada repartição das riquezas, tanto no interior de cada país como na esfera internacional.”
Lula afirmou não ser justo que o resultado de ações erradas dos países mais desenvolvidos recaíssem sobre as nações mais pobres.
“Os países mais industrializados devem dar o exemplo. É imprescindível que cumpram os compromissos estabelecidos pelo Protocolo de Quioto.”
A partir disso, citou que o Brasil estava fazendo esforços notáveis para diminuir os efeitos das mudanças do clima, como: a redução pela metade do desmatamento na Amazônia.
“Os êxitos recentes são fruto da presença cada vez maior e mais efetiva do Estado Brasileiro na região, promovendo o desenvolvimento sustentável – econômico, social, educacional e cultural – de seus mais de 20 milhões de habitantes.”
Além disso, pregou que não haveria solução para os efeitos das mudanças climáticas se a humanidade não fosse capaz de mudar os seus padrões de produção e consumo. A partir disso, seria necessário, em caráter de urgência, uma nova matriz energética.
“Os biocombustíveis são vitais para construí-la. Eles reduzem significativamente as emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, com a utilização crescente e cada vez mais eficaz do etanol, evitou-se, nesses 30 últimos anos, a emissão de 644 milhões de toneladas de CO² na atmosfera.”
Citou que a experiência brasileira de três décadas comprovava que a produção de biocombustíveis não afetava a segurança alimentar. A cana-de-açúcar, uma das bases para o tipo de combustível, ocupava apenas 1% das terras agricultáveis do país.
O problema da fome no Planeta não decorre da falta de alimentos, mas da falta de renda que golpeia quase um bilhão de homens, mulheres e crianças. É plenamente possível combinar biocombustíveis, preservação ambiental e produção de alimentos
Luiz Inácio Lula da Silva
2008 – Luiz Inácio Lula da Silva
Na sexta vez em que subia para discursar na Assembleia-Geral da ONU, Lula começou falando sobre a grave crise financeira que se abateu no mundo em 2008.
“A crise financeira, cujos presságios vinham se avolumando, é hoje uma dura realidade. A euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos após a sucessão de naufrágios financeiros que ameaçam a economia mundial.”
Em sua opinião, as intervenções do Estado, que se tornaram indispensáveis, contrariam os “fundamentalistas do mercado” e mostraram que era chegada a hora da política.
“Somente a ação determinada dos governantes, em especial naqueles países que estão no centro da crise, será capaz de combater a desordem que se instalou nas finanças internacionais, com efeitos perversos na vida cotidiana de milhões de pessoas.”
A ausência de regras, para Lula, favorecia os aventureiros e oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores, com ônus da cobiça desenfreada de alguns, não podendo recair impunemente sobre o ombro de todos.
A economia é séria de mais fica nas mãos dos especuladores, com a ética devendo valer também sobre o setor.
“Uma crise de tais proporções não será superada com medidas paliativas. São necessários mecanismos de prevenção e controle, e total transparência das atividades financeiras.”
De acordo com o presidente, os organismos econômicos supranacionais careciam de autoridade de instrumentos práticos para coibir a anarquia especulativa. A partir disso, seria necessário a construção de bases completamente novas.
“Dado o caráter global da crise, as soluções que venham a ser adotadas deverão ser também globais, tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis, sem imposições. Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós.”
Nacionalismo
Lula prosseguiu sua fala relembrando da queda do Muro de Berlim, nos anos 1990, que simbolizou a possibilidade da construção de um mundo de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria.
Entretanto, para ele, era triste constatar que outros muros foram construídos rapidamente.
“Muitos dos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas, e até fascistas, que nos fazem evocar, temerosos, tempos que pensávamos superados.”
O presidente citou que um suposto “nacionalismo populista” que alguns criticavam no Sul Global, era praticado sem constrangimento nos países ricos.
“As crises financeira, alimentar, energética, ambiental e migratória, para não falar das ameaças à paz em tantas regiões, demonstram que o sistema multilateral
deve se adequar aos desafios do século 21”, com o alinhamento conformista dos países do Sul sendo descartado dos centros tradicionais.
2009 – Luiz Inácio Lula da Silva
Lula abriu seu discurso último discurso na Assembleia-Geral até então abordando três ameaças ao planeta:
a persistência da crise econômica;
a ausência de uma governança mundial estável e democrática;
e os riscos que a mudança climática traz para a humanidade.
Com isso, relembrou seu discurso de 2008, sobre a crise econômica, que em sua opinião, era mais do que a crise dos grandes bancos, mas dos grandes dogmas.
Para o presidente, o que caiu por terra foi toda uma concepção econômica, política e social tida como inquestionável. O que faliu foi um modelo insensato de pensamento e de ação que subjugou o mundo nas últimas décadas.
“Foi a doutrina absurda de que os mercados podiam Não fizemos nenhuma mágica. Simplesmente havíamos preservado nosso sistema financeiro do vírus da especulação. Havíamos reduzido nossa vulnerabilidade externa, passando da condição de devedores à de credores internacionais. -se, dispensando qualquer intervenção do Estado, considerado por muitos um mero estorvo. Foi a tese da liberdade absoluta para o capital financeiro, sem regras nem transparência, acima dos povos e das instituições.”
Ainda foi a apologia perversa do Estado mínimo, atrofiado, fragilizado, incapaz de promover o desenvolvimento e de combater a pobreza e as desigualdades, prosseguiu Lula.
Após 12 meses, o chefe do Executivo constatou que houve alguns progressos, mas que ainda persistiam muitas indefinições. Como não existir uma clara disposição para enfrentar as graves distorções da econômica global.
“O fato de ter sido evitado o colapso total do sistema parece ter provocado em alguns um perigoso conformismo.”
A partir disso, citou que o Brasil foi um dos últimos a sentir os efeitos da crise e um dos primeiros a sair dela.
“Não fizemos nenhuma mágica. Simplesmente havíamos preservado nosso sistema financeiro do vírus da especulação. Havíamos reduzido nossa vulnerabilidade externa, passando da condição de devedores à de credores internacionais.”
Também relembrou que os países pobres e em desenvolvimento deveriam aumentar sua participação na direção do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Sem isso, em sua visão, não aconteceria efetiva mudança e os riscos de novas maiores crises seriam inevitáveis.
“Não é possível que, passados 65 anos, o mundo continue a ser regido pelas mesmas normas e valores dominantes quando da conferência de Bretton Woods. Não é possível que as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança sejam regidos pelos mesmos parâmetros que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.”
Sobre o clima, citou a aprovação de um Plano de Mudanças Climáticas, que previa a redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020, a diminuição de 4,8 bilhões de toneladas da emissão de CO², o que representava mais do que a soma dos compromissos de todos os países desenvolvidos juntos.
2011 – Dilma Rousseff
Na abertura da 66ª Assembleia-Geral da ONU, Dilma Rousseff (PT), primeira mulher eleita presidente da República na história do país, externou preocupação com a crise econômica que afetava as principais potências globais, como os Estados Unidos e a União Europeia.
“O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social”, declarou Dilma.
A presidente também demonstrou temor pelos milhões de desempregados que se espalhavam pelo mundo inteiro. E alertou: “É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta.”
“Nós, mulheres, sabemos – mais que ninguém – que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor”, ressaltou a presidente.
“Primavera Árabe” e Conselho de Segurança
No decorrer de sua fala, Dilma comentou a série de manifestações que varreram o norte da África e o Oriente Médio a partir de dezembro de 2010, conhecidas como “Primavera Árabe”.
“O Brasil é pátria de adoção de muitos imigrantes daquela parte do mundo. Os brasileiros se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura, porque é universal: a liberdade”, disse a chefe do Executivo.
“É preciso que as nações encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo”, acrescentou.
A presidente repudiou as repressões brutais aos manifestantes em parte das nações palco da “Primavera Árabe” e pediu por uma reforma que tornasse o Conselho de Segurança da ONU mais inclusivo.
“O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea. Um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento”, detalhou Dilma.
“O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho. Vivemos em paz com nossos vizinhos há mais de 140 anos. Abdicamos, por compromisso constitucional, do uso da energia nuclear para fins que não sejam pacíficos. Tenho orgulho de dizer que o Brasil é um vetor de paz, estabilidade e prosperidade em sua região, e até mesmo fora dela”, concluiu.
2012 – Dilma Rousseff
Em seu segundo discurso na ONU, Dilma voltou a mostrar preocupação com as consequências da grave crise econômica global iniciada em 2008.
“A opção por políticas fiscais ortodoxas vem agravando a recessão nas economias desenvolvidas com reflexos nos países emergentes, inclusive o Brasil”, pontuou a presidente.
Na avaliação de Dilma, o mundo desenvolvido não havia encontrado o caminho para articular ajustes fiscais, estímulos ao investimento e demanda.
“Os Bancos Centrais dos países desenvolvidos persistem em uma política monetária expansionista que desequilibra as taxas de câmbio. Com isso, os países emergentes perdem mercado devido à valorização artificial de suas moedas, o que agrava ainda mais o quadro recessivo global”, afirmou a presidente.
Apoio à Palestina e novo pedido por reforma do Conselho de Segurança
Discutindo as relações internacionais, Dilma aproveitou a ocasião para expressar apoio ao reconhecimento do Estado Palestino como membro pleno das Nações Unidas.
“Reitero minha fala de 2011, quando expressei o apoio do governo brasileiro ao reconhecimento do Estado Palestino como membro pleno das Nações Unidas Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política regional”, declarou.
Pelo segundo ano consecutivo, Dilma cobrou por uma reforma que ampliasse o número de assentos garantidos aos países no Conselho de Segurança da ONU. A chefe do Executivo criticou também coalizões que estariam sendo feitas à revelia do órgão.
“As guerras e os conflitos regionais, cada vez mais intensos, as trágicas perdas de vidas humanas e os imensos prejuízos materiais para os povos envolvidos, demonstram a imperiosa urgência da reforma institucional da ONU e em especial de seu Conselho de Segurança”, avaliou Dilma.
“Não podemos permitir que este Conselho seja substituído – como vem ocorrendo – por coalizões que se formam à sua revelia, fora de seu controle e à margem do direito internacional. O recurso fácil a esse tipo de ação é produto desse impasse que imobiliza o Conselho. Por isso, ele precisa urgentemente ser reformado”, complementou.
2013 – Dilma Rousseff
De volta a Nova York em setembro de 2013, Dilma abriu a 68ª Assembleia-Geral da ONU com críticas ao esquema de espionagem ilegal promovido por agências de inteligência dos Estados Unidos.
O escândalo havia sido revelado pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, a partir de denúncias feitas pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden – nome que se tornaria peça-chave no desenrolar da história.
“No Brasil, a situação foi ainda mais grave, pois aparecemos como alvo dessa intrusão. Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas e a própria Presidência da República tiveram suas comunicações interceptadas”, expôs Dilma.
“Estamos diante de um caso grave de violação dos direitos humanos e das liberdades civis; da invasão e captura de informações sigilosas relativas às atividades empresariais e, sobretudo, de desrespeito à soberania nacional do meu país”, continuou.
Jornadas de junho
Em seu discurso, Dilma classificou a série de protestos que tomaram conta do Brasil em junho daquele ano (as “Jornadas de Junho”) como “parte indissociável do nosso processo de construção da democracia e de mudança social”.
“Os manifestantes não pediram a volta ao passado. Os manifestantes pediram, sim, o avanço para um futuro de mais direitos, mais participação e mais conquistas sociais”, disse Dilma.
A presidente fez questão de elencar avanços sociais conquistados no país ao longo dos anos anteriores e afirmou que era preciso agir para seguir o caminho do desenvolvimento.
“Por isso, não basta ouvir, é necessário fazer. Transformar essa extraordinária energia das manifestações em realizações para todos”, completou.
2014 – Dilma Rousseff
A então presidente iniciou seu discurso em setembro de 2014, na ONU, destacando a proximidade das eleições presidenciais no Brasil: “Estas eleições são a celebração de uma democracia que conquistamos há quase 30 anos, depois de duas décadas de governos ditatoriais”.
Ela destacou os avanços do Brasil na área econômica, afirmando que foi construída uma “economia moderna” e uma “sociedade mais igualitária”.
Dilma também ressaltou a saída do Brasil do Mapa da Fome, anunciada naquele ano.
“Trinta e seis milhões de brasileiros deixaram a miséria desde 2003; 22 milhões somente no meu governo”, disse.
E citou a redução da mortalidade infantil, o avanço do ensino técnico e a ampliação da educação superior. Ao falar deste último, destacou a política de cotas e o programa Ciência Sem Fronteiras.
“Ações afirmativas permitiram o ingresso massivo de estudantes pobres, negros e indígenas na nossa universidade”, disse.
“Pelo Ciência Sem Fronteiras, mais de 100 mil estudantes de pós-graduação e de graduação são enviados às melhores universidades do mundo”, completou.
Mudanças climáticas e combate à corrupção
Dilma também destacou os avanços e compromissos no combate às mudanças climáticas.
“Entre 2010 e 2013, deixamos de lançar na atmosfera, a cada ano, em média, 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Alcançamos em todos esses anos as quatro menores taxas de desmatamento da nossa história. Nos últimos 10 anos, reduzimos o desmatamento em 79%, sem renunciar ao desenvolvimento econômico nem à inclusão social”, colocou.
Por último, a então presidente também falou das ações adotadas em seu governo no combate à corrupção, citando medidas como a aprovação da Lei de Acesso à Informação (LAI), que permite acesso por parte de qualquer cidadão a informações do governo, e a construção do Portal da Transparência, que permite acesso aos gastos governamentais.
“A história mostra que só existe uma maneira correta e eficiente de combater a corrupção: o fim da impunidade com o fortalecimento das instituições que fiscalizam, investigam e punem atos de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros”, disse.
2015 – Dilma Rousseff
Reeleita em 2014, Dilma deu início a discurso na 70ª Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2015, condenando os ataques terroristas praticados pelo grupo radical Estado Islâmico.
“A multiplicação de conflitos regionais – alguns com alto potencial destrutivo –, assim como a expansão do terrorismo que mata homens, mulheres e crianças, que destrói patrimônio da humanidade, que expulsa de suas comunidades seculares milhões de pessoas, mostram que a ONU está diante de um grande desafio”, disse Dilma.
“Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie, como aqueles perpetrados pelo chamado Estado Islâmico e por outros grupos associados. Esse quadro explica, em boa medida, a crise dos refugiados pela qual passa atualmente a humanidade”, acrescentou.
Na ocasião, ela abordou também a crise de refugiados na Europa e indicou que o Brasil estava “de braços abertos” para receber aqueles que fugiam de seus países em busca de melhores condições de vida.
“O Brasil é um país de acolhimento, um país formado por refugiados. Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Estamos de braços abertos para receber refugiados”, declarou a chefe do Executivo.
Crise econômica
Em meio à crise econômica que atingia o Brasil, Dilma afirmou que os esforços para blindar o país dos efeitos da crise mundial de 2008 haviam chegado a um limite, levando o governo a adotar medidas de austeridade fiscal.
“A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento. A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas”, avaliou a presidente.
Para Dilma, o Brasil não apresentava problemas estruturais graves, e sim conjunturais.
“Diante dessa situação estamos reequilibrando o nosso orçamento e assumimos uma forte redução de nossas despesas, do gasto de custeio e até de parte do investimento”, contou.
“No Brasil, o processo de inclusão social não foi interrompido. Esperamos que o controle da inflação, a retomada do crescimento e do crédito contribuirão para uma maior expansão do consumo das famílias”, expressou a presidente.
Este foi o último discurso de Dilma na ONU. Em dezembro de 2015, a Câmara dos Deputados deu início ao processo de impeachment da presidente, concluído pelo Senado em agosto do ano seguinte, resultando no afastamento definitivo da presidente.
2016 – Michel Temer
Empossado um mês antes da abertura da 71ª Assembleia-Geral da ONU, Michel Temer (MDB) subiu à tribuna das Nações Unidas em Nova York, em setembro de 2016, e fez uma defesa do processo de impeachment de Dilma Rousseff, de quem o emedebista foi vice.
“O Brasil acaba de atravessar um processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu, devo ressaltar, dentro do mais absoluto respeito constitucional”, assegurou Temer.
O presidente reafirmou, na ocasião, a independência dos Poderes Judiciário, Executivo, Legislativo e do Ministério Público.
“Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre”, disse Temer.
Reforma do Conselho de Segurança
Assim como sua antecessora, Temer insistiu na necessidade de se reformar o Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-lo mais representativo.
“O Brasil vem alertando, há décadas, que é fundamental tornar mais representativas as estruturas de governança global, muitas delas envelhecidas e desconectadas da realidade. Há que reformar o Conselho de Segurança da ONU. Continuaremos a colaborar para a superação do impasse em torno desse tema”, disse Temer.
Combate à xenofobia
O presidente condenou ainda violações dos direitos humanos e a crescente xenofobia contra refugiados – vítimas dos inúmeros conflitos espalhados pelo mundo.
“Há um retorno da xenofobia. Os nacionalismos exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos”, afirmou Temer.
O chefe do Executivo enalteceu também a importância do esporte para a promoção da paz e como ferramenta de combate ao preconceito.
“Num mundo ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e energia. Pela primeira vez, aliás, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos Olímpicos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater o preconceito”, terminou.
2017 – Michel Temer
Em sua segunda fala na ONU, Temer abriu seu discurso dizendo que a organização enfrentava muitos desafios desde sua criação e que todos sabiam que não foram cumpridas plenamente as aspirações de seus fundadores.
Mas, mesmo assim, disse que a verdade era que a ONU em mais de 70 anos continuava representando a esperança.
“A verdade é que a ONU continuou e continua representando a possibilidade de um mundo mais justo. Um mundo de paz e de prosperidade. Um mundo em que ninguém tenha que sujeitar-se à discriminação, à opressão, à miséria, em que os padrões de produção e consumo sejam compatíveis com o bem-estar das gerações presentes e futuras.”
Ainda disse que o momento necessitava de mais diplomacia, negociação, multilateralismo e diálogo.
“Não por outra razão, sustentamos, ao lado de tantos outros países, o imperativo de reformar as Nações Unidas. É particularmente necessário ampliar o Conselho de Segurança, para ajustá-lo às realidades do século 21. Urge ouvir o anseio da grande maioria desta Assembleia.”
Economia
Para Temer, não era razoável supor que ideias, que no passado, já se mostraram equivocadas, pudesse no futuro render bons frutos.
Ainda disse que recusava nacionalismos exacerbados e não acreditava no protecionismo como saída para as dificuldades econômicas, que demandavam respostas efetivas para causas profundas da exclusão social.
“O compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável é de primeira hora. Permeia nossas políticas públicas e nossa atuação externa. Na presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, por exemplo, elegemos a Agenda 2030 como eixo de nossas atividades. Em todas as frentes, o Brasil procura dar sua contribuição para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.”
Citou que o Brasil estava na vanguarda do movimento em direção a economia de baixo carbono. A energia limpa e renovável no país representava mais de 40% da matriz energética, sendo superior três vezes a média mundial.
Desmatamento
Uma das preocupações de Temer era a questão do desmatamento, especialmente na Amazônia.
Para a questão, estava sendo concentrados atenção e recursos. E, que com isso, os indicadores mostraram a diminuição “de mais de 20% do desmatamento” na região.
“Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos.”
2018 – Michel Temer
Em sua última fala na cúpula, Temer começou tratando dos desafios da integridade da ordem internacional.
“Vivemos tempos toldados por forças isolacionistas. Reavivam-se velhas intolerâncias. As recaídas unilaterais são cada vez menos a exceção. Mas esses desafios não devem – não podem – nos intimidar.”
Segundo o presidente, era necessário responder com o melhor de cada povo ao isolacionismo, a intolerância e ao unilateralismo.
O Brasil respondia ao isolacionismo, para Temer, com mais abertura e integração.
“O Brasil sabe que nosso desenvolvimento comum depende de mais fluxos internacionais de comércio e investimentos. Depende de mais contato com novas ideias e com novas tecnologias. É na abertura ao outro – e não na introspecção e no isolamento – que construiremos uma prosperidade efetivamente compartilhada.”
A política externa universalista era levada adiante pelo país. No Mercosul, foi reafirmada a vocação democrática do bloco, com barreiras derrubadas e novos acordos assinados.
Além disso, foi impulsionada a aproximação com os países da Aliança do Pacífico, para buscar uma América Latina cada vez mais unida, prosseguiu Temer.
Foi revitalizada ou iniciada negociações comerciais com parceiros de todas as regiões, como: União Europeia, Associação Europeia de Livre Comércio, Canadá, Coreia do Sul, Singapura, Líbano, Marrocos, Tunísia.
“Por meio dessas e de outras iniciativas, seguimos estreitando nosso relacionamento com o conjunto das Américas, com a Europa, com a Ásia, com a África.”
Intolerância
Ao desafio da intolerância, o Brasil estava respondendo de forma decidida, com diálogo e solidariedade, segundo Temer.
“São o diálogo e a solidariedade que nos inspiram, a cada momento, a honrar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tornar realidade esse documento, que em breve completará sete décadas, é imperativo que demanda atenção e ação permanentes.”
Unilateralismo
O desafio do unilateralismo era respondido com mais diplomacia e mais multilateralismo, sendo feito a partir da convicção de que problemas coletivos demandam respostas coletivamente articuladas. “Daí o significado maior da ONU: esta é, por excelência, a casa do entendimento.”
Para isso, era necessário o fortalecimento da ONU, para torná-la mais legitima e eficaz.
“Precisamos de reformas importantes – entre elas a do Conselho de Segurança, que, como está, reflete um mundo que já não existe mais. Precisamos, enfim, revigorar os valores da diplomacia e do multilateralismo.”
2019 – Jair Bolsonaro
Falando pela primeira vez na Assembleia-Geral, Jair Bolsonaro (PL) começou seu discurso afirmando que apresentava um Brasil que ressurgia depois de “estar à beira do socialismo”.
Um país que estava sendo reconstruído a partir dos anseios e dos ideais de seu povo, que estava trabalhando, em seu governo, para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização e da desregulamentação.
“Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições.”
Prosseguiu sua fala afirmando que um acordo entre o governo de Dilma Rousseff e a “ditadura cubana” trouxe ao Brasil “10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional”.
Esses médicos “foram impedidos de trazer cônjuges e filhos, tiveram 75% de seus salários confiscados pelo regime e foram impedidos de usufruir de direitos fundamentais, como o de ir e vir”.
“Um verdadeiro trabalho escravo, acreditem”, prosseguiu.
Disse que a Venezuela, que outrora era um país pujante e democrático estava experimentando a crueldade do socialismo.
“O socialismo está dando certo na Venezuela! Todos estão pobres e sem liberdade”, alegou.
E que o governo brasileiro estava trabalhando com outros países, como os Estados Unidos, para que a democracia fosse restabelecida na Venezuela.
“O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido.”
Economia
A economia, segundo Bolsonaro, estava reagindo ao romper os vícios e amarras de quase duas décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada.
“Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor. Em apenas oito meses, concluímos os dois maiores acordos comerciais da história do país, aqueles firmados entre o Mercosul e a União Europeia e entre o Mercosul e a Área Europeia de Livre Comércio, o EFTA.”
Amazônia
Bolsonaro criticou “os ataques sensacionalistas” que estava sofrendo por “grande parte da mídia tradicional” devido aos focos de incêndio na Amazônica.
“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo.”
E, que em vez de ajudar, “um ou outro país” embarcou “nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”.
“Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania! Um deles por ocasião do encontro do G7 ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir. Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta.”
Demarcação de terras indígenas
A demarcação de terras indígenas também foi um dos aspectos do discurso. Para o então presidente, era preciso entender que “nossos nativos são seres humanos” e que mereciam usufruir dos mesmos direitos que todos.
E deixou claro que o Brasil não iria aumentar de 14% para 20% de seu território como área demarcada “como alguns chefes de Estado gostariam que acontecesse”.
O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio (sic) não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas. Especialmente das terras mais ricas do mundo. É o caso das reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol. Nessas reservas, existe grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras, entre outros
Jair Bolsonaro
2020 – Jair Bolsonaro
Por causa da pandemia de Covid-19, a Assembleia-Geral de 2020 aconteceu de forma virtual.
Bolsonaro começou sua falando sobre a doença causada pelo coronavírus. De acordo com o presidente à época, houve um alerta de que haviam dois problemas para serem resolvidos: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados com a mesma responsabilidade.
“Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da Federação. Ao presidente, coube o envio de recursos e meios a todo o país.”
Voltou a criticar a mídia, dizendo que os veículos de imprensa politizaram o vírus, “disseminando o pânico entre a população. Sob o lema ‘fique em casa’ e a ‘economia a gente vê depois’ quase trouxeram o caos social ao país”.
A partir disso, listou as medidas tomadas por seu governo para auxiliar a população:
auxílio emergencial para 65 milhões de pessoas;
destinação de US$ 100 bilhões para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas e a compensação da arrecadação dos estados e municípios;
assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à Covid;
estimulou o tratamento precoce da doença;
e destinou US$ 400 milhões para pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil.
Agronegócio
Mesmo com a crise mundial, Bolsonaro ponderou que a produção rural não parou, com o homem do campo trabalhando “como nunca” e produzindo “como sempre” alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.
“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta.”
2021 – Jair Bolsonaro
Críticas à mídia voltaram a dar o tom da abertura da declaração de Bolsonaro na Assembleia-Geral de 2021.
“Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões. O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019.”
Citou que o país estava há 2 anos e 8 meses, período de seu governo, sem qualquer caso “concreto” de corrupção.
E que o Brasil tinha um “presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo”.
E que isso era muito, uma base sólida, se fosse levado em conta que o país estava “à beira do socialismo”.
Segundo Bolsonaro, as estatais, que antes davam “prejuízos de bilhões de dólares”, passaram a ser lucrativas.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) era usado para “financiar obras em países comunistas, sem garantias”. E, a partir daquele momento, tudo havia mudado.
“Tudo isso mudou. Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada.”
A partir disso, apresentou alguns feitos de sua administração:
Realização do maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada da história do Brasil;
Contratação de US$ 100 bilhões de novos investimentos e arrecadação de US$ 23 bilhões em outorgas;
Leilão de 34 aeroportos e 29 terminais portuários;
US$ 6 bilhões em contratos privados para novas ferrovias.
Meio ambiente
A fala do então presidente prosseguiu destacando os grandes desafios ambientais do país.
“Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.”
Destacou que foi antecipada para 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática.
“Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.”
Com isso, os resultados passaram a aparecer, com a redução de 32% do desmatamento na Amazônia no mês de agosto, se comparado ao mesmo mês do ano anterior.
2022 – Jair Bolsonaro
Em seu último discurso na Assembleia-Geral, Bolsonaro abriu sua fala relembrando feitos de seu governo durante a pandemia de Covid-19.
“Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos.”
“Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados.”
Afirmou que o objetivo de seu governo foi proteger a renda das famílias para que elas conseguissem enfrentas as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia.
E, em paralelo, foi lançado um amplo programa de imunização, incluindo a produção de vacinas no país.
Voltou a citar que a “corrupção sistêmica” foi eliminada do país.
“Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político, em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares.”
E criticou Lula indiretamente, dizendo que ele era o responsável por isso e “havia sido condenado em três instâncias por unanimidade”. O período era marcado pela eleição presidencial em que os dois se enfrentaram.
Feitos do governo
O então presidente citou feitos de seu governo, entre eles:
aprimoramento de serviços públicos com redução de custos e investimento em ciência e tecnologia;
Brasil se tornou o 7º país mais digitalizado do mundo;
pioneirismo da tecnologia 5G na América Latina;
privatizações e concessões, com ênfase na infraestrutura;
conclusão do projeto de transposição do Rio São Francisco;
adoção dos marcos regulatórios do saneamento básico, das ferrovias e do gás natural;
criação das leis da liberdade econômica e das start-ups.
Economia
Na economia mundial, Bolsonaro destacou que o Brasil chegava ao fim de 2022 em plena recuperação, com o emprego em alta e a inflação em baixa.
“A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada.”
E voltou a citar suas expectativas para o setor:
estimativa que no fim de 2022 apenas 4% das famílias brasileiras estivessem vivendo abaixo da linha da pobreza extrema;
Auxílio Brasil atendendo 20 milhões de famílias, com pagamentos de quase US$ 4 por dia;
queda de 5 pontos percentuais do desemprego, chegando a 9,1%;
redução da inflação, com estimativa de 6% no ano;
queda de 30% no valor da gasolina;
queda de 15% no valor da energia elétrica;
Brasil em 2021 foi o 4º maior destino de investimento estrangeiro no mundo
aumento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2021.
“Temos a tranquilidade de quem está no bom caminho. O caminho de uma prosperidade compartilhada. Compartilhada entre os brasileiros e, mais além, compartilhada com nossos vizinhos e outros parceiros mundo afora.”
2023 – Luiz Inácio Lula da Silva
Em seu retorno à Presidência da República, Lula relembrou a primeira vez que esteve na Assembleia-Geral, há exatos 20 anos.
“Há vinte anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez. E disse, naquele 23 de setembro de 2003: ‘Que minhas primeiras palavras diante deste Parlamento Mundial sejam de confiança na capacidade humana de vencer desafios e evoluir para formas superiores de convivência’”
E afirmou que voltava para ao local para dizer que mantinha sua inabalável confiança na humanidade.
Em 2003, segundo Lula, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática.
Mas, que no atual momento, ela batia na porta, destruía nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimento, principalmente para os mais pobres.
“A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual.”
Isso acontecia pelos 10 maiores bilionários possuírem mais riqueza do que os 40% mais pobres da humanidade.
E que o destino de cada criança era determinado pela parte do mundo em que seus pais vivem e a qual classe social pertencem.
“É preciso antes de tudo vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo.”
Democracia
De acordo com Lula, seu retorno a condição de presidente aconteceu “graças à vitória da democracia” no Brasil.
A democracia, em suas palavras, “garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão”. E que a esperança havia vencido o medo.
“Nossa missão é unir o Brasil e reconstruir um país soberano, justo, sustentável, solidário, generoso e alegre. O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta.”
E que o país voltou para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais.
“A comunidade internacional está mergulhada em um turbilhão de crises múltiplas e simultâneas: a pandemia da Covid-19; a crise climática; e a insegurança alimentar e energética ampliadas por crescentes tensões geopolíticas. O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar.”
Segundo Lula, se houvesse uma palavra para resumir todos os problemas, seria a desigualdade.
E, que a partir disso, a Agenda 2030 da ONU poderia ajudar em seu combate.
Entretanto, a maior parte dos objetivos caminhava em ritmo lento.
“O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030.”
“Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio.”
E, que no Brasil, havia o comprometimento de implementar os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível.
Mas, foi implementada o alcance a igualdade racial, como um novo objetivo adotado voluntariamente. E citou outras metas a serem alcançadas.
“Combateremos o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres. Seremos rigorosos na defesa dos direitos de grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência. Resgatamos a participação social como ferramenta estratégica para a execução de políticas públicas.”
Por que a ONU quer ajudar países na regulamentação de redes sociais?
Este conteúdo foi originalmente publicado em Saiba o que disseram todos os presidentes brasileiros na Assembleia-Geral da ONU no site CNN Brasil.
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