Bloqueado no Brasil desde o final de agosto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), o X, anteriormente conhecido como Twitter, voltou a funcionar na manhã desta quarta-feira (18) para parte dos usuários. A plataforma conseguiu contornar o bloqueio judicial por meio de serviços intermediários como a Cloudflare.
A empresa de infraestrutura digital mascarou o IP da rede social, dificultando o trabalho das operadoras de internet. Explicamos o processo utilizado aqui.
Como a Cloudflare permitiu o retorno do X?
Com o bloqueio judicial imposto ao X no Brasil, os provedores de internet foram obrigados a restringir o acesso à plataforma, bloqueando os endereços IP que identificam os servidores da rede social. No entanto, o X recorreu aos serviços da Cloudflare para continuar acessível aos usuários brasileiros.
O conselheiro da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Basílio Rodrigues Perez revelou à Folha de S. Paulo que o X fez uma mudança técnica durante a noite de terça-feira (17). alterando o IP da rede social e associando-a aos servidores da Cloudflare.
Assim, a Cloudflare atua mascarando o IP real do X. Ao utilizar a infraestrutura da empresa, o tráfego da rede social é redirecionado por servidores espalhados pelo mundo, dificultando que os provedores de internet consigam rastrear e bloquear o endereço original da plataforma. Em vez de bloquear o IP do X, o que é registrado agora pelos provedores é o IP da Cloudflare, que hospeda milhares de sites e serviços.
Essa abordagem cria um verdadeiro “escudo” para a plataforma, já que, ao redirecionar o tráfego, a Cloudflare impede que o bloqueio seja implementado com eficácia, tornando mais difícil para as autoridades aplicarem a decisão judicial de forma precisa.
O que é a Cloudflare?
A Cloudflare é uma empresa americana que oferece uma série de serviços para proteger e otimizar o desempenho de sites e aplicativos na internet. Seus principais produtos incluem CDN (Content Delivery Network), proteção contra DDoS (ataques de negação de serviço), além de ferramentas de firewall e gerenciamento de DNS (Domain Name System).
Fundada em 2009, a Cloudflare tem como principal função distribuir o tráfego da internet entre vários servidores ao redor do mundo, garantindo maior velocidade no carregamento de sites e resistência a ataques. No entanto, a empresa também se tornou popular por seu papel em proteger a identidade dos servidores de sites e dificultar o rastreamento de seu tráfego.
Por que a mudança torna o bloqueio difícil?
A principal razão pela qual a Cloudflare dificulta o bloqueio de plataformas como o X está em sua tecnologia de CDN. O sistema distribui o conteúdo de um site por múltiplos servidores globais, o que significa que o tráfego pode ser enviado de diferentes locais, dependendo da origem da solicitação do usuário.
Com isso, mesmo que os provedores tentem bloquear o acesso ao X em um local específico, como o Brasil, o tráfego pode ser roteado de outros servidores, mantendo o site acessível.
Outro fator é a ampla base de clientes da Cloudflare. Bloquear os endereços IP da Cloudflare implicaria em restringir o acesso a milhões de outros sites e serviços legítimos que dependem da infraestrutura da empresa, algo impraticável para os provedores e que poderia gerar um impacto significativo em outros setores da economia digital.
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É possível bloquear o X agora que ele se hospeda na Cloudflare?
Sim, é possível bloquear o X, mesmo com o uso da Cloudflare, mas o processo se torna mais complexo.
Uma das opções seria bloquear o DNS do site, impedindo que os usuários acessem o domínio “x.com”, embora isso possa ser contornado com o uso de DNS alternativos.
Outra medida seria o bloqueio dos IPs da Cloudflare, mas isso afetaria muitos outros sites que utilizam a mesma infraestrutura, causando problemas para serviços legítimos.
Técnicas mais avançadas, como a inspeção profunda de pacotes (DPI), permitiriam identificar o tráfego do X, mesmo mascarado, mas essa abordagem envolve desafios técnicos e questões de privacidade.
Também é possível bloquear o acesso por meio de lojas de aplicativos.
No entanto, cada uma dessas soluções tem limitações práticas e técnicas, o que torna o bloqueio do X viável, mas difícil de ser mantido com eficácia.
O papel da Cloudflare e o futuro da regulação
A atuação da Cloudflare neste caso levanta questões sobre como governos e reguladores podem impor restrições efetivas a plataformas globais que utilizam tecnologias de ocultação e distribuição de tráfego. A Anatel reafirmou que o bloqueio ao X continua em vigor.
Porém, medidas técnicas como o bloqueio de IPs não são simples quando se trata de redes que utilizam serviços como os da Cloudflare. A empresa, por sua vez, tem uma política de neutralidade, ou seja, não costuma interferir nas operações de seus clientes, a menos que receba uma ordem legal direta.
Isso aumenta o desafio para as autoridades, que precisam lidar com tecnologias que ultrapassam fronteiras e jurisdições.
Um endereço IP (Internet Protocol) é um identificador único atribuído a cada dispositivo conectado a uma rede que utiliza o protocolo IP para comunicação. Ele permite que dispositivos se localizem e se comuniquem entre si na rede, podendo ser tanto um endereço IPv4, composto por quatro blocos de números separados por pontos, quanto um endereço IPv6, que usa oito blocos de números hexadecimais separados por dois pontos.
Uma CDN (Content Delivery Network) é uma rede distribuída de servidores que trabalham em conjunto para entregar conteúdo digital, como páginas web, imagens e vídeos, de maneira mais rápida e eficiente para os usuários finais. A CDN armazena cópias do conteúdo em vários locais ao redor do mundo, reduzindo a latência e melhorando o desempenho ao fornecer o conteúdo a partir do servidor mais próximo ao usuário.
O DNS (Domain Name System) é um sistema que traduz nomes de domínio, como www.exemplo.com, em endereços IP, que são necessários para que os navegadores e outros aplicativos acessem os sites na internet. O DNS atua como uma espécie de “lista telefônica” da internet, facilitando a localização de recursos online por meio de nomes amigáveis ao invés de sequências complexas de números.
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