Make-A-Wish realizou 580 mil sonhos de crianças com doenças graves – e quer dobrar o impacto social

Mudar a vida de crianças e adolescentes que encaram de perto a morte: é com essa missão que a Fundação Make-A-Wish, organização americana do terceiro setor, atua desde a década de 1980. A organização tem o intuito de realizar sonhos de jovens que sofrem com doenças graves, unindo médicos, doadores, patrocinadores e mais de 32 mil voluntários na melhoria da qualidade da vida de meninos e meninas. Até o momento, 585 mil sonhos já foram realizados.

Partindo de uma estratégia que estipula planos até 2030, a Make-A-Wish tem metas ousadas de crescimento. A organização espera dobrar o seu total de financiamentos anuais, que derivam de doações de pessoas e empresas. A partir da melhoria nos recursos financeiros, a organização espera dobrar também o número de ações realizadas, chegando a 50 mil sonhos por ano até o fim da década.

Já presente em 50 países a partir de 40 afiliadas, a ONG deve expandir sua atuação para mais 10 nações, buscando realizar também os sonhos de crianças em locais mais distantes e desiguais. A Fundação está presente no Brasil, onde conta com mais de 3 mil voluntários e 3.705 sonhos realizados.

Com formação em Harvard, o CEO da Fundação Make-A-Wish Internacional, Luciano Manzo, passou 30 anos como executivo de empresas de tecnologia da informação, como Experian, LM & Partners e Smartika, até que, em 2020, passou a integrar a alta liderança do terceiro setor.

Durante visita ao Brasil, Manzo conversou com a EXAME sobre os planos de crescimento e como a Fundação busca se conectar com empresas para aumentar a quantidade de iniciativas realizadas por ano.

O senhor tem uma carreira construída na área corporativa. Como você chegou até a posição de CEO da Make-A-Wish?

Passei mais de 30 anos no setor corporativo. Fui CEO de uma empresa multinacional de informações, listada na Bolsa de Valores de Londres. Nos últimos 25 anos, a tecnologia da informação tem sido o diamante dos setores em termos de progresso. A atuação na América Latina estava sob a minha responsabilidade quanto atuei na Experian. Começamos com uma equipe pequena no Brasil e, depois, fizemos aqui a maior transação da empresa, em US$ 1,4 bilhões, na aquisição da Serasa.

Então, depois de tantos anos, decidi que era hora de fazer algo com mais impacto social. Gosto de dizer que passei de lucros para relevância. Sempre tive uma paixão por algo que tivesse impacto no mundo. Entrei na Make-A-Wish como voluntário no Conselho Internacional de Diretores.

Depois de quatro anos, por uma combinação de eventos, o conselho me pediu para assumir o cargo de CEO. Assumi em janeiro de 2020 e, desde então, tenho tido a honra de liderar essa organização.

Luciano Manzo com Juliana Ayrosa (dir.), diretora da Make-A-Wish Brasil, e Maria Camila Ramirez, Diretora da América Latina da Make-A-Wish Internacional

Como o senhor descreve o propósito da Make-A-Wish?

Nosso propósito é realizar desejos que mudam a vida de crianças afetadas por doenças graves. A palavra-chave é “mudança de vida”. Há evidências científicas de que a realização do sonho de uma criança, quando ela está enfrentando a batalha mais importante de sua vida, tem um efeito psicológico e físico incrível, ajudando a criar a resiliência e a reação necessárias para que enfrente esss momento com mais força.

Quando uma criança é diagnosticada com uma doença grave, sua infância é roubada. Tudo do que fazia parte da sua vida normal, como ter amigos, estar com a família, ir à escola, brincar, praticar esportes, ter uma vida social, é interrompido. De repente, tudo isso é substituído por isolamento, segregação, internações, solidão, medo, ansiedade. E o sonho tem o poder de substituir tudo isso por esperança, força e alegria. Essa é realmente a essência do sonho — não é um presente passageiro, é um momento transformador.

Falar da morte e do luto, especialmente quando tratamos de crianças que passaram por longos tratamentos desde tão jovens, é uma tarefa difícil – e muitas vezes um tabu. Como crescer enquanto organização nesse meio?

Devemos reconhecer que há algumas crianças que, infelizmente, vão para o céu, mas a grande maioria das nossas crianças passa pela doença e se cura. Elas não se lembram da doença, mas se lembram da realização do sonho como o ponto de virada.

Acredito que precisamos falar sobre a doença das crianças, isso não pode ser um tabu ou um assunto proibido. Mas também precisamos garantir que sejamos capazes de transmitir a mensagem de que o sonho contribui que as pessoas afetadas vivam aquele momento de uma maneira completamente diferente. Isso é algo que impacta não apenas a criança, mas também a família, os irmãos e toda a comunidade. O sonho os ajuda a garantir que, nesses momentos, haja uma luz que imediatamente ilumine a escuridão.

Qual a estratégia para dobrar a arrecadação e quantidade de sonhos realizados por ano? Como engajar mais empresas, voluntários e doadores na realização dos sonhos?

Elaboramos cinco pilares que vão guiar o desenvolvimento da Make-A-Wish ao redor do mundo. O primeiro é sobre a expansão geográfica. Nosso primeiro esforço nos próximos cinco anos será adicionar 10 novas afiliadas, em 10 novos territórios, à nossa rede internacional. Recentemente incorporamos o Equador e a Indonésia.

O segundo pilar do nosso plano estratégico é dobrar o tamanho de nossas receitas nos próximos cinco anos. Apesar de sermos uma organização sem fins lucrativos, os recursos financeiros são necessários para realizar desejos, apoiar nossas afiliadas e expandir nossa gama de serviços e o suporte que oferecemos à nossa rede.

Ligada ao aumento das receitas está a alta do número de sonhos. Nosso primeiro marco é em 2025, quando queremos atingir 25 mil realizações por ano. Estamos indo bem em direção a esse objetivo, atualmente em cerca de 21 mil sonhos.

O quarto pilar é garantir que a Make-A-Wish receba o selo Great Place To Work. E fico feliz em dizer que já alcançamos isso, fomos recentemente certificados. O forte propósito da organização também está ligado a um excelente ambiente de trabalho. Estamos fazendo todo o esforço para atrair os melhores talentos. E, por último, mas não menos importante, é garantir que continuemos a inspirar nossa comunidade e nossas afiliadas, porque precisamos inspirar confiança e mostrar o valor que oferecemos à nossa rede.

Quais são os sonhos mais pedidos pelas crianças e adolescentes?

Existem quatro categorias: o sonho de “ter”, que é quando as crianças querem possuir algo; depois, há o sonho de “ir”, quando elas querem ir a algum lugar; o sonho de “ser”, quando elas querem ser uma princesa, super-herói, jogador de futebol; e ainda o de “encontrar”, quando querem conhecer uma personalidade.

E em algumas áreas, a grande maioria dos desejos são do tipo “ter”. Mas precisamos garantir que isso não seja mal interpretado como algo materialista. Muitas pedem por um celular ou tablet para que possam voltar aos estudos. Se uma criança passa seis ou sete meses no hospital, separada dos amigos, da escola, da família, dos irmãos, um telefone é um meio vital de comunicação.

Uma vez, uma garotinha de cinco anos que foi entrevistada disse que seu sonho era reformar seu quarto. Mas, como estava ao lado dos pais, não estávamos convencidos. Então, pedimos a eles que saíssem e conversamos com a criança. “Qual seu maior sonho, se pudesse ter qualquer coisa?”. Ela sussurrou e disse “Eu gostaria de voar como uma borboleta”. Criamos um ambiente com flores, um jardim especial, ela foi pendurada ao teto com uma fantasia de borboleta e asas, e pôde realizar seu sonho.

Quais as oportunidades para realizar os sonhos das crianças brasileiras?

Pela dimensão e potencial do país, para nós, o Brasil é um desenvolvimento estratégico na região. Realizamos mais de 3.700 sonhos por aqui e contamos com 3 mil voluntários. Há ainda mais de 30.000 crianças a cada ano que poderiam ser elegíveis para um desejo. Então, o potencial é enorme e garantimos que faremos todo o possível para apoiar o progresso e o desenvolvimento da operação aqui, alcançando o maior número possível de crianças no país.


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