Imprevisibilidade mantém sensação de pessimismo no mercado de trabalho, diz pesquisa

Os profissionais estão mais pessimistas sobre o mercado de trabalho, segundo uma pesquisa da Robert Half concedida antecipadamente à CNN.

 

E apesar do cenário atual apontar para taxas de desemprego historicamente baixa, a imprevisibilidade com o Brasil e a economia global tira o sono dos trabalhadores.

O Índice de Confiança Robert Half, que mede a confiança dos profissionais no mercado de trabalho, atingiu o menor patamar do ano: 38 pontos.

No registro anterior, em junho, o índice chegou a 38,9 pontos. Já no primeiro registro do ano, em março, a pontuação era de 39,4 pontos.

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Imprevisibilidade econômica

Em entrevista à CNN, o gerente da Robert Half, Leonardo Berto, explica que, apesar da demanda e do espaço que as empresas têm para crescer no cenário atual, o aumento do pessimismo dos profissionais se dá principalmente pela imprevisibilidade econômica observada no Brasil e no mundo.

Vale lembrar que os níveis de desemprego voltaram a cair depois do primeiro trimestre do ano. Para a população geral, o percentual chega a 6,9% no trimestre encerrado em junho. Já para os profissionais qualificados, a 3,5%.

Além disso, no segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 1,4%, surpreendendo as expectativas do mercado, que agora enxergam o país crescendo próximo de 3% ao fim deste ano.

Nesse sentido, ele destaca que dados como a queda da taxa de desemprego e a performance da economia são positivos, mas são confrontados por condições econômicas que trazem a sensação de incerteza sobre o futuro.

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“O déficit público está crescendo e existe ainda a preocupação do mercado financeiro com o cenário futuro aliado a um cenário internacional muito mais complexo, que está aumentando incertezas em relação ao futuro da economia norte-americana”, destaca ele sobre o país que encara desafios sobre a inflação e pode desacelerar o crescimento para controlar a alta dos preços.

Berto analisa ainda que essa imprevisibilidade econômica gera falta de capacidade de investimento.

Isso, segundo ele, engaveta projetos de empresas e limita a expansão dos negócios mesmo diante da demanda.

“A imprevisibilidade não necessariamente está falando que o cenário é ruim, é só a imprevisibilidade. As empresas não estão sabendo exatamente qual caminho tomar”, pondera o gerente da Robert Half.

Mudanças no mercado

Apesar dos dados da pesquisa considerarem a mão de obra qualificada, composta por profissionais a partir de 25 anos e com ensino superior completo, é preciso entender que o mercado de trabalho é heterogêneo, conforme aponta o economista Renan Pieri, professor da FGV EASP.

“O mercado melhora de maneira distinta para as pessoas. Por exemplo, se observados setores econômicos como agricultura e construção civil, os salários caíram nos últimos 12 meses”, exemplifica.

“Então, mesmo que na média os salários tenham aumentado, para alguns setores eles pioraram”.

Outro ponto que ele destaca como motivador do pessimismo é o elevado número de pedidos pelo seguro desemprego. Ou seja, apesar da queda de desempregados, a quantidade de demissões ainda é alta.

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Para dimensionar este cenário, a pesquisa mostra que, quando questionados sobre as projeções de demissões na empresa, 65% dos recrutadores indicaram que as chances são baixas.

O percentual representa, conforme análise do levantamento, um movimento de retenção, tendo em vista o aumento de cinco pontos percentuais em comparação com o trimestre anterior.

Pieri destaca uma hipótese para explicar as demissões, mesmo em um cenário econômico favorável: “Em momentos em que a taxa de desemprego é baixa, as pessoas se preocupam menos com perder o emprego. E isso pode gerar alguma queda de produtividade no trabalho, já que essas pessoas sabem que vão conseguir um novo emprego mais rápido que antes”.

A pesquisa mostra, nessa mesma linha, que ao refletir sobre os próximos seis meses, 36% dos desempregados acreditam que a probabilidade de conseguir um novo emprego será maior.

Inteligência artificial

A pesquisa mostra que houve um aumento do pessimismo na expectativa sobre o mercado de trabalho também nas perspectivas sobre os próximos seis meses.

No terceiro trimestre do ano, a confiança dos profissionais no mercado de trabalho chegou a 44,7 pontos.

O número é menor que os dois primeiros trimestres do ano: em junho, a confiança chegou a 45,9 pontos e, em março, a 46,8.

Para a professora de economia da PUC-SP, Cristina Pinto de Mello, um dos fatores que impulsionam o pessimismo sobre o futuro é a substituição de trabalhadores qualificados por inteligência artificial (IA).

“Estamos no meio de um processo de destruição dos empregos na forma que a gente conhece. As pessoas percebem uma ameaça com relação ao ponto de trabalho que ocupam. É uma incerteza sobre como será no futuro”, afirma a economista, que lidera uma pesquisa na área de percepção de bem-estar subjetivo no mercado de trabalho.

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Por outro lado, Leonardo Berto analisa que a inteligência artificial tem sido uma ferramenta importante para garantir que seja possível aumentar a produtividade e eficiência sem necessariamente aumentar o número de posições.

“Esse pessimismo continua muito atrelado a um cenário de indefinição de como vai ser o orçamento de 2025 dentro das empresas e de quais serão os movimentos estratégicos.”

Busca por soluções

Para o gerente da Robert Half, o principal movimento na busca de diminuir o pessimismo destes funcionários deve ser a retenção de talentos.

“Quando eu olho para a retenção, eu estou olhando para o bem-estar. Eu estou considerando o programa de benefícios, a estrutura de desenvolvimento organizacional e o treinamento. Eu estou olhando para o meu modelo de gestão.”

No mesmo sentido, o professor Renan Pieri aponta que é preciso rever os planos de incentivos e observar o desempenho dos funcionários para relacioná-las aos movimentos de promoção.

Já para a economista Cristina Mello, é necessário rever a cultura admissional e redesenhar o tecido social diante das mudanças relacionadas ao uso de tecnologia no mercado de trabalho.

“Se estamos caminhando para a destruição dos meios através dos quais a gente obtém este dinheiro, precisamos entender como vamos substituí-los”, alerta Mello.

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