As últimas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, Datafolha, Quaest, AtlasIntel e Paraná Pesquisas, mostram divergências nos resultados de intenção de voto entre os líderes Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB).
Cada instituto tem sua própria metodologia e fez a coleta de dados em datas diferentes:
Quaest: entrevistas pessoais, domiciliares e presenciais, com a aplicação de questionário estruturado. Coleta aconteceu entre 8 e 10 de setembro.
AtlasIntel: coleta aleatória com questionário estruturado via internet. Coleta aconteceu entre 5 e 10 de setembro.
Datafolha: abordagem pessoal em pontos de fluxo populacional com aplicação de questionário estruturado. Coleta aconteceu entre 10 e 12 de setembro.
Paraná Pesquisas: entrevistas pessoais, domiciliares e presenciais, com aplicação de questionário estruturado. Coleta aconteceu entre 9 e 12 de setembro.
“Cada uma dessas metodologias consegue captar melhor, com maior ou menor precisão, determinados segmentos. Numa pesquisa digital, por exemplo, sem a interação humana, é possível ter respostas mais sinceras para aquelas respostas que socialmente não seriam tão aceitas”, explica o âncora Iuri Pitta sobre o modo utilizado pela AtlasIntel.
Leia Mais:
Bolsonaro faz torcida para Nunes em vídeo e afirma: “Não queremos uma experiência nova”
Tarcísio vê crescimento “consistente” de Nunes e aposta em vitória no 2º turno
Boulos reforça vínculo com PT e quer Lula na periferia na reta final
No caso da entrevista presencial, é possível captar outros dados que não seriam possíveis na forma digital, como aquelas pessoas que não estão tão expostas às redes sociais.
“Quando você vai no ponto de fluxo, você pega pessoas que estão em circulação, por isso se chama ponto de fluxo. Se você vai até o domicílio das pessoas, talvez você não capte tantos segmentos que são mais avessos a conversar com o entrevistador ali no seu endereço domiciliar”, prossegue.
Os institutos realizaram a segunda rodada de pesquisas após o começo do horário eleitoral, em 30 de agosto.
Nunes tem o maior tempo de exposição na TV e no rádio, com cerca de 6 minutos. Boulos tem pouco mais de 2 minutos. Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB), tem 30 e 35 segundos, respectivamente.
Veja o comprativo dos levantamentos:
Comparativo entre as pesquisas AtlasIntel, Quaest, Datafolha e Paraná Pesquisas • Arte/CNN
Ao CNN 360º, o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda explica que as teorias de que a televisão perdeu a importância nas campanhas eleitorais deve ser ponderado.
“A televisão é que proporcionou essa recuperação, digamos assim, do prefeito Ricardo Nunes”, afirma Lavareda, falando sobre a subida do atual prefeito nas pesquisas.
Na opinião do cientista político, as datas em que as pesquisas são coletadas podem ter influenciado nos resultados.
“Em primeiro lugar, o momento, numa fase que nós estamos da campanha, esse mês de setembro e meados de setembro, eu dizia, é o momento em que as tendências estão se confirmando, conformando e configurando como tal. As mudanças, dia a dia, embora pequenas do ponto de vista se forem mensuradas em trackings [pesquisas internas], elas são significativas num intervalo de dois a três dias”, diz Lavareda.
Nunes e Boulos oscilam e Marçal estaciona
Para a analista de política da CNN Luísa Martins, houve uma frustração para a campanha de Nunes, por ele aparecer em terceiro na pesquisa AtlasIntel, com 20,1%, ficando atrás de Boulos e Marçal, que empataram em primeiro.
“É esperado de quem tem a máquina a seu favor, de quem está na prefeitura, um desempenho melhor do que um terceiro lugar. Há ali uma ideia de que a máquina ou a situação é mais favorável para quem está exercendo, no caso, a Prefeitura de São Paulo”, cita.
A partir da divulgação da Quaest, do Datafolha e do Paraná Pesquisas que mostram o atual prefeito à frente, houve um “alívio maior”.
“Claro que há um empate técnico pela margem de erro, mas mostram [Nunes] ligeiramente à frente no caso de Marçal na pesquisa Quaest, e na frente de Boulos no Datafolha e na Paraná Pesquisas”, prossegue.
O empate triplo nas outras pesquisas, para a analista, mostra que Nunes e Boulos oscilaram para cima, enquanto Marçal estacionou.
“Isso é positivo para a campanha de Ricardo Nunes, porque mostra que talvez Pablo Marçal, apesar de toda a sua evidência nas redes sociais e nos cortes que ele faz, há uma percepção de que ele pode talvez ter atingido um teto, um platô, e que a sua rejeição pode acabar o tirando dessa disputa”, observa Martins.
Transferência de votos
O analista de política da CNN Pedro Venceslau observa que uma estratégia que pesa muito para as campanhas é a transferência de votos para os candidatos de seus padrinhos políticos.
Em sua visão, Nunes está conseguindo fazer a transferência de votos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), recuperando parte daquelas pessoas que estavam com Marçal.
“Ele foi de 31% para 39% segundo o Datafolha”, entre os bolsonaristas, destaca Venceslau.
Boulos, por sua vez, está com mais dificuldade, “porque já se esperava na candidatura dele que nessa altura do campeonato, o eleitor que se declara lulista e o eleitor que se declara petista tivesse migrado em massa para a sua candidatura”.
Entretanto, de acordo com o analista, isso ainda não aconteceu porque muitas pessoas não identificam Boulos com o PT, já que ele é do PSOL e não possui história dentro do Partido dos Trabalhadores. Outras, ainda não o conectaram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Por isso, essa pressão da campanha para que o Lula venha para São Paulo no dia 29 de setembro e no dia 5 de outubro, véspera da eleição, e estão já usando muito a imagem dele no horário eleitoral. O Boulos tinha 43% segundo o Datafolha entre os eleitores do Lula na pesquisa anterior, saltou 5%, está com 48% nessa pesquisa agora”, prossegue Venceslau.
Com isso, ele também destaca que a campanha optou por usar a imagem de outros petistas de São Paulo na campanha como: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prefeito entre 2013 e 2016; a deputada federal Luiza Erundina, que é do PSOL, mas foi prefeita da capital pelo PT entre 1989 e 1992; e o deputado federal Rui Falcão (PT-SP).
Outra figura muito presente é a candidata a vice na chapa, Marta Suplicy, que comandou a cidade entre 2001 e 2004.
“Marta Suplicy é uma das personagens que mais tem aparecido no horário eleitoral de Guilherme Boulos, nos materiais de campanha, nos adesivos. Todos os materiais de campanha do Boulos tem os dois lado a lado do mesmo tamanho, não é aquele vice que fica mais escondido, aquele vice que fica com o nome discreto”, diz Venceslau.
Em sua opinião, isso acontece por ela ter uma identificação histórica com o PT e por emprestar seu legado de prefeita para Boulos.
“Está batendo muito na tecla de que foi a gestão de Marta Suplicy que criou o CEUs, o Bilhete Único, o Orçamento Participativo, entre outras marcas”, continua.
Para as campanhas que estão mais abaixo nas pesquisas, como no caso de Tabata Amaral e Datena, o cenário é desanimador, pondera Venceslau.
“José Luiz Datena é um nome conhecidíssimo do público, é um nome que não precisa passar por essa etapa de se tornar conhecido, mas mostra uma dificuldade muito grande de virar a chave do apresentador para o candidato e ver a sua rejeição crescendo demais”, avalia o analista.
Eleitor precisa entregar celular ao mesário antes de votar?
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda as divergências entre pesquisas para a eleição em São Paulo no site CNN Brasil.
Deixe um comentário