Em ano de Olimpíadas, quem são os executivos que comandam o esporte no Brasil

Cedric Burel, CEO da Decathlon no Brasil

Diretor da operação brasileira da Decathlon desde 2016, o francês Cedric Burel adora recorrer a metáforas esportivas para resumir sua trajetória na empresa e a forma como ela se relaciona com os funcionários. “Alguém que já jogou no ataque e hoje está na defesa entende mais do jogo como um todo do que quem atuou em uma única posição”, compara. “É por isso que a companhia favorece mudanças de funções, quase como se tivesse um programa de ­trainee contínuo.”

Ele próprio já defendeu as cores da Decathlon em diversas posições. Começou como gerente de exportação em 1999, um ano depois de se mudar para o Brasil — ele nasceu em Paris há 51 anos. Depois foi gerente de departamento e, em seguida, diretor comercial. Voltou para a França, em 2006, para gerenciar o marketing da Quechua, uma das marcas do grupo. Dois anos depois, no mesmo país, assumiu o comando de outra, a Wedze, focada em esqui e snowboard — esportes que ele começou a praticar. “A Decathlon atrai pessoas que gostam de algum tipo de esporte e que acabam seduzidas por vários outros”, afirma Burel, que hoje adora praticar montanhismo e kitesurfe, de preferência na costa do Ceará e do Piauí.

Voltou ao Brasil, em 2016, para assumir o cargo de CEO. Naquela época, a operação verde-amarela tinha cerca de 25 lojas — hoje são 50. “Me enxergo como um técnico de futebol”, afirma. “Meu papel é escolher bons jogadores e ajudá-los a se desenvolver.” Acrescenta que dá liberdade para todo mundo ajudá-lo a traçar a melhor estratégia para a companhia. “Todo time que dá autonomia para os atletas funciona melhor”, acredita. “Mas as discussões a respeito do que deve ser feito não podem passar do vestiário. Uma vez no campo, todo mundo precisa jogar da maneira que foi combinada.”

A empresa, que não divulga quanto fatura, vende produtos para 65 modalidades e se volta para esportistas de todos os níveis. Daí o apreço dela pelas Olimpíadas, que costumam aumentar o interesse dos consumidores por determinados esportes. “No Brasil, por exemplo, aconteceu com o skate”, lembra Burel, referindo-se às conquistas de Rayssa Leal, a Fadinha.

Diogo Corona, COO da Smart Fit

Diogo Corona, COO da Smart Fit (Leandro Fonseca/Exame)

Academias, como todo mundo sabe, são reféns de certa sazonalidade. “No Brasil, em razão do calor e das promessas de Ano-Novo relacionadas aos exercícios físicos, a frequência é altíssima no primeiro trimestre”, afirma Diogo Corona, chief operating officer (COO) do grupo Smart Fit desde o ano passado. “Nos últimos 15 dias de dezembro, por outro lado, quase ninguém vai treinar.” Férias escolares também costumam se traduzir em frequências mais baixas, assim como a Copa do Mundo. “Já as Olimpíadas ajudam a manter as academias mais cheias. Muita gente, por sinal, assistiu a muitas das provas nas TVs das nossas unidades.”

Nascido em Ribeirão Preto há 36 anos, ele é o segundo filho do fundador da companhia, Edgard Corona, que exerce o cargo de CEO. Formado em administração de empresas pelo Insper, Diogo trabalha na Smart Fit desde 2010. Começou atuando na área de expansão, depois virou gerente de planejamento e, em seguida, diretor. De 2019 a janeiro deste ano, também foi CEO da TotalPass, que integra 20 mil academias e 250 modalidades. “As empresas estão se dando conta, cada vez mais, da importância de investir no bem-estar dos funcionários”, diz Diogo, ao comentar a trajetória bem-sucedida da empresa.

Controlado pela família Corona, que detém 14,8% das ações, e pela gestora Pátria Investimentos, dona de 30,1%, o grupo Smart Fit atingiu a marca de 1.529 academias em 15 países — serão 16 em breve, com a inauguração de uma unidade no Marrocos. Com 4,9 milhões de clientes, a holding faturou 4,2 bilhões de reais no ano passado, o que representou um salto de 45% em relação a 2022. O grupo também é dono da Bio Ritmo e de outras marcas, a exemplo da ­Velocity, recém-adquirida, e da Race ­Bootcamp, na qual Diogo costuma se exercitar — de preferência logo cedo. “Nunca sei a hora em que vou sair do trabalho”, diz o COO.

Luciana Soares, diretora de marketing da PUMA

Luciana Soares, diretora de marketing da PUMA (Leandro Fonseca/Exame)

Formada em propaganda e marketing pela ESPM, a paulistana Luciana Soares construiu uma carreira invejável. Debutou na área de marketing do ­Credicard e depois foi para a Natura, onde trabalhou por mais de oito anos. Foi contratada em seguida pela Unilever, de onde saiu como diretora de marketing da divisão de sorvetes — isso depois de reposicionar a Fruttare e comandar outras marcas que dispensam apresentações, como Magnum e Hellmann’s. De dois anos para cá, ela é a diretora de marketing da Puma no Brasil. “Sempre digo que minhas conquistas profissionais só foram possíveis porque também dei atenção à vida pessoal”, diz ela, que está com 44 anos e é mãe de duas meninas e de um menino.

A executiva diz que seu estilo de vida e o que é promovido pela Puma são quase o mesmo. “Sou muito sortuda por trabalhar nesse segmento”, diz. “O esporte é algo que não se restringe à atividade física, pois acaba contagiando o dia a dia. É muito envolvente.” Ela já praticou modalidades diversas — de vôlei a polo aquático. Atualmente, intercala treinos funcionais com caminhadas e partidas de beach tennis. “O esporte sempre fez parte da minha vida”, diz.

Neste ano, a Puma fez o maior investimento de marketing de sua história. Tudo para reforçar os laços da marca com a velocidade, aproveitando que tivemos Olimpíadas, Copa América e Eurocopa em 2024. Lançada globalmente em abril, a nova campanha da Puma ganhou o nome de “FOREVER.FASTER. — See The Game Like We Do”. É estrelada por Neymar, pelo velocista norueguês Karsten Warholm e pelo sueco Mondo Duplantis, recordista mundial de salto com vara, entre outros atletas de ponta.

Fernando Tracanella, CEO da Track&Field

Fernando Tracanella, CEO da Track&Field (Leandro Fonseca/Exame)

CEO da Track&Field desde o ano passado, Fernando Tracanella ingressou na companhia em 2018, como chief financial officer (CFO). Egresso do mercado de private equity, onde atuou depois de uma longa temporada no Pão de Açúcar, ele foi contratado pela Track&Field por meio de um headhunter. Este, no início do processo seletivo, só lhe disse que se tratava de uma marca de moda esportiva. “Ao ouvir isso, torci para que fosse a Track&Field”, jura o atual mandachuva. “O estilo de vida da marca combina muito com o meu.” Desde que entrou na empresa, por sinal, ele se rendeu ainda mais aos esportes. Atualmente, dedica-se com regularidade ao tênis e à corrida. Em outubro, vai disputar sua primeira maratona, a de Chicago.

Tracanella substituiu Fred Wagner, sócio-fundador que deixou o cargo de CEO para comandar a TFSports, que faturou 36 milhões de reais no ano passado. Trata-se de um braço estratégico da Track&Field. É a divisão que organiza os eventos esportivos do grupo. Foram mais de 3.300 no ano passado — da Run Series, que virou uma das corridas mais conhecidas do país e está completando 20 anos, ao torneio de beach tennis Track&Field Open. “Todos os nossos eventos esportivos são importantíssimos para a construção da marca”, diz Tracanella. No caso da Run Series, trata-se de uma estratégia de marketing para lá de assertiva, pois exige que os quase 7.000 participantes retirem os kits de corrida nas lojas da rede.

São 374 atualmente, 51 delas próprias, e as demais são franquias. Estão espalhadas por mais de 160 cidades brasileiras. A primeira filial internacional, em Cascais (Portugal), foi inaugurada em abril. No ano passado, o grupo Track&Field faturou 683 milhões de reais — 20,5% mais do que em 2022. A boa forma na qual a companhia se encontra é creditada, principalmente, à maior atenção que os brasileiros têm dado, de maneira geral, aos exercícios físicos. “É uma tendência que se acentuou com a pandemia”, afirma o CEO. “E que ganha força com as Olimpíadas, que convidam todo mundo a se engajar com os exercícios.”

Gustavo Furtado, diretor-geral da Centauro

Gustavo Furtado, diretor-geral da Centauro (Leandro Fonseca/Exame)

Com 226 lojas, todas próprias, a Centauro registrou 9,4 bilhões de reais de receita líquida no ano passado — o grupo SBF, do qual ela faz parte, totalizou 6,9 bilhões de reais. As Olimpíadas ajudam a alavancar os resultados da marca? Sim, mas no médio e no longo prazo. “Como os Jogos celebram diversas modalidades, fica difícil mensurar o impacto nas vendas de imediato”, explica Gustavo Furtado, diretor-geral da Centauro desde o ano passado. Com a Copa do Mundo, por outro lado, e o Brasileirão, entre outros torneios do gênero, são outros quinhentos. Isso porque a rede é muito procurada pela venda de camisetas de times de futebol.

A Centauro concentra esforços principalmente em quem pratica ou é fã desse esporte, além de corredores e frequentadores de academias. “A marca foca quem já se exercita, embora também esteja de portas abertas para quem só está interessado em se vestir com roupas esportivas”, resume o diretor-geral, acrescentando que as Olímpiadas costumam colocar nos holofotes novos ídolos. Estes acabam levando muita gente a se vestir como eles e, quem sabe, praticar a mesma modalidade. É o caso de Rebeca Andrade, por exemplo, que já soma 12 milhões de seguidores no Instagram. “É louvável que atletas como ela estejam se transformando em influenciadores”, diz Furtado. “Acabam, com isso, tendo mais facilidade para se manterem no esporte e servirem de estímulo para outras pessoas trilharem o mesmo caminho.”

Carioca, ele está com 45 anos e mora em São Paulo desde os 5. Formado em engenharia elétrica pela USP, ingressou na Centauro em 2013, como head da área digital. Hoje ele treina em academia, de segunda a sexta, sempre na companhia de um personal trainer. E, nos fins de semana, vai surfar no litoral paulista. “A Centauro acredita que o esporte melhora a vida das pessoas”, diz. “E eu sei disso na prática.”

Pedro Zannoni, CEO da Lacoste na América Latina

Pedro Zannoni, de Atleta a CEO (Leandro Fonseca/Exame)

Que a Lacoste tem fortes vínculos com o tênis todo mundo sabe. Jean René ­Lacoste (1904-1996), o fundador da marca, venceu quatro títulos de Grand Slam e foi eleito o melhor jogador do mundo em 1926. Sua voracidade nas quadras, digamos assim, motivou o apelido “Crocodilo”, aproveitado com maestria pela grife. A camisa polo da Lacoste, invenção sua, por sinal, foi criada para substituir a de manga comprida, bem mais pesada, que se utilizava nas quadras de tênis até então.

Corta para 1988. Naquele ano, Pedro Zannoni tinha 13 anos e era um tenista em ascensão. Disso pouca gente sabe, assim como do fato de que ele passou a ser apoiado pela Lacoste bem naquela época. Em 1993, o futuro CEO da grife na América Latina disputou os torneios de ­Wimbledon e Roland Garros como juvenil. No ano seguinte, deu adeus às competições e começou a dar aulas de tênis. “Foi uma mudança tão difícil como a transição para a vida corporativa”, compara Zannoni, que nasceu na Argentina há 48 anos e mora no Brasil desde os 5.

Quem o levou para o mundo empresarial foi a Wilson, conhecida pelos artigos para tenistas — a marca o contratou para ajudá-la a montar seu portfólio de produtos no Brasil. Depois ele ocupou posições executivas na Puma, na Adidas e na Asics, da qual foi CEO na América Latina. O cargo atual, na Lacoste, ele exerce há quatro anos. Todos os países da região, à exceção do México, estão sob a alçada dele. No Brasil, responsável por 60% do faturamento regional, a grife tem 16 outlets e 57 lojas, das quais 47 são franquias.

Zannoni continua a se dedicar ao tênis, mas agora como atleta amador. O circuito profissional, no entanto, ele segue acompanhando de perto. O esporte, afinal, sempre foi uma das maiores apostas, junto com o golfe, da Lacoste. Daí o entusiasmo da marca com a medalha de ouro conquistada por Novak Djokovic, patrocinado por ela, na Olimpíada de Paris. “Ajuda a aumentar o interesse pelo tênis, principalmente entre os jovens, e a alavancar o estilo de vida associado ao esporte”, resume a antiga promessa das quadras.

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