Numa listinha do que não poderia faltar numa festa de aniversário infantil dos anos 1990, certamente estava o cachorro-quente, o “guaraná”, a torta retangular, e os copos e pratinhos descartáveis — esses últimos, de papelão.
Na região de Goiânia, capital de Goiás, quem vendia às lojas os pratos de papelão era o hoje empresário José Hermínio. E ia bem nas vendas: tinha meses que chegava a tirar 10 salários-mínimos da época como representante comercial.
Mesmo assim, Hermínio entendeu que sua praia era, mesmo, empreender. Assim como milhares de empreendedores ao redor do Brasil, ele arriscou tudo que tinha num pequeno comércio na cidade.
“Eu já trabalhava desde cedo para os outros, então estava cansado dessa vida”, afirma. “Eu queria seguir a minha própria história”.
A “própria história” de Hermínio acabou fazendo com que ele voltasse a trabalhar com os pratinhos de papelão – e outros artigos de festas. Hoje, ele é dono da Hiperfestas, uma franquia de lojas de itens para festas com 160 unidades pelo país, principalmente na região centro-oeste, nordeste e norte.
No ano passado, sua empresa faturou 300 milhões de reais, valor que deve aumentar neste ano não apenas pelo crescimento do número de lojas, mas também pelo aumento do tamanho de cada unidade já existente – e também pelo crescimento do mercado. Segundo a Associação Brasileira do Comércio de Artigos para Festas (Asbrafe), o mercado de festa deve movimentar 21 bilhões de reais em 2024, crescimento de 25%.
12 franquias a partir de R$ 3 mil para quem quer tirar um extra
Qual é a história de José Hermínio
Sétimo filho de uma família de oito irmãos, José Hermínio nasceu no interior do Mato Grosso e se mudou para Goiânia aos 16 anos. Na capital goiana, passava pelas ruas vendendo linha telefônica, praticamente um artigo de luxo no início dos anos 1990.
Com o bom tino para as vendas, foi chamado para ser vendedor de pratos de papelão para festas. Tinha 21 anos. Lá, rapidamente chegou a uma remuneração de 10 salários-mínimos.
“Eu era muito bem remunerado para a minha idade”, afirma. “Tinha casado há pouco tempo e tinha uma filha recém-nascida. Mas meu coração começou a ficar inquieto. De repente, eu senti uma necessidade muito grande de ser dono do meu próprio negócio”.
Foi quando Hermínio ficou sabendo que o ponto de um mercadinho que era seu cliente seria liberado. O empreendedor acertou as contas com a indústria de pratos de papelão e investiu tudo no novo espaço. O ano era 1997.
Ele e a família se mudaram para os fundos da loja e trabalharam de domingo a domingo por um ano, tentando fazer o negócio virar.
“Quando passou esse período, fui fazer o inventário e vi que, no fim do mês, não sobrava para mim nem meio salário-mínimo”, afirma.
O lance foi renegociar. O aluguel baixou pela metade, o valor pago para o contador, por um quarto. O plano também passou por mudar a precificação dos produtos, fazendo com que alguns tivessem margem maior.
“Dois anos depois, mesmo em uma péssima localização, a gente faturava 11.000 por mês. Era um feito e tanto”. Ou seja, o empreendedor sobreviveu ao “vale da morte”, expressão usada porque os primeiros anos de operação são cruciais para saber se o negócio vai prosperar ou fechar.
Em 1999, surgiu uma oportunidade de mudar o mercadinho para um espaço maior, em um ponto mais bem localizado. Os custos também eram maiores e seria um novo desafio para a família, que tinha acabado de se estabilizar. Desafio aceito.
A mudança para o novo endereço coincidiu com a chegada do seu segundo filho, Josué, hoje seu braço direito na HiperFesta. Naquela época, ainda nos moldes de um pequeno negócio familiar, sua esposa trabalhava no caixa, enquanto ele se responsabilizava pelas compras e todas as demais funções e Josué pulava de colo em colo pelos funcionários. O negócio ali também prosperou ao ponto de expandirem as atividades para um açougue. “Começamos faturando 18.000 reais e chegamos a 100.000 reais por mês. Era um negócio muito próspero e sustentável”, relembra.
Em 2005, José Hermínio decidiu vender o mercado (o ponto segue sendo seu até hoje) e se aventurar em uma empresa no setor de festas a convite do seu ex-patrão.
“Eu entrei como sócio em 2005 e nos primeiros sete anos, abrimos 10 lojas”, afirma. “Depois, nosso sócio não queria mais trabalhar com franquia e saiu da empresa. A partir disso, eu foquei na expansão em unidades e saímos de 10 lojas em 2013 para 160 lojas em 2023”.
Como a Hiperfestas cresceu
O crescimento da Hiperfestas se deu de forma orgânica e baseada na confiança no potencial humano.
José Hermínio começou apostando em seus próprios funcionários para expandir a empresa, dando oportunidade para que eles se tornassem sócios ou franqueados. O empreendedor chegou até a emprestar dinheiro para os funcionários abrirem as lojas.
“Muitos dos nossos franqueados começaram como funcionários e, com o tempo, viraram donos das próprias lojas”, afirma Hermínio.
Essa estratégia de expansão levou a empresa a atuar em 11 estados, incluindo Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Bahia.
A marca se consolidou como pioneira no setor de festas, especialmente em regiões carentes de lojas especializadas.
Mesmo com os desafios da pandemia, a Hiperfestas se adaptou. “As festas mudaram de grandes para menores, mas o brasileiro não para de comemorar”, afirma Hermínio. O empresário também ressalta que a sazonalidade das festas impulsiona as vendas, com datas como festas juninas e Dia das Crianças sendo cruciais para o faturamento.
“Hoje, tem festa junina sendo comemorada até em agosto”, afirma. “Isso ajuda a gente a conseguir manter boas vendas o ano inteiro”.
Qual é o plano de expansão
Nos últimos anos, a Hiperfestas adotou uma abordagem mais estratégica para abrir novas lojas.
A empresa estuda cada localidade e mercado antes de entrar, analisando a concorrência e as características regionais. Além disso, Hermínio revela que a empresa está remodelando o modelo de negócio.
“Estamos transformando algumas lojas para o lucro real e aumentando o tamanho das unidades, o que nos permite vender mais sem necessariamente abrir novas franquias”, afirma.
O foco agora está em São Paulo e no nordeste, onde a marca já é conhecida graças ao e-commerce, que permite alcançar estados sem presença física. Com essa estratégia multifacetada, José Hermínio espera chegar aos 330 milhões de receita ainda em 2024.
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