Curva dos juros parece exagerada e Brasil não está pior que outros países no fiscal, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, apontou nesta quarta-feira, 2, que, apesar de diversos desafios e do risco fiscal da economia brasileira, a curva longa dos juros — isto é, a expectativa de preço dos juros no futuro — parece exagerada em sua precificação.

“Há questões [no Brasil], mas é muito parecido nos outros países. Partimos de um ponto de dívida um pouco mais alto, mas é parecido”, afirmou Campos Neto durante evento promovido pela Veedha Investimentos em São Paulo. “[O Brasil] vai precisar de um choque positivo se quiser viver com juros mais baixos.”

O presidente do BC ponderou que o desafio não é apenas brasileiro.

“Grande parte dos países tem problemas semelhantes aos do Brasil. Gastaram muito e precisam de resultado primário [positiva] para pagar a conta da pandemia”, afirmou. “Alguém está fazendo isso? Não. Muitos estão tentando um plano para fazer melhorar o resultado primário.”

Mas Campos Neto alertou que fazer esse ajuste de “forma artificial” — ou seja, forçar a taxa para baixo sem as condições técnicas para isso — é produzir inflação. “É uma transferência de renda de quem consegue se proteger versus quem não consegue”, disse.

A fala de Campos Neto acontece um dia após a agência de classificação de risco Moody’s elevar a nota do Brasil — a despeito das críticas de analistas do mercado sobre a insustentabilidade fiscal do país e a trajetória explosiva da dívida pública.

Inflação

Segundo Campos Neto, a inflação atualmente converge para a meta. “Olhando o curto prazo, temos alguns números melhores. Temos olhado mais para a parte de serviços, em especial os intensivos em mão de obra”, disse.

Para frente, porém, o presidente da instituição enxerga uma piora. “Por quanto tempo conseguimos ficar com a inflação de serviços baixa e com a mão de obra tão pressionada?”, questionou.

A preocupação para o futuro, apontou, é que o país registra um crescimento econômico forte, com expansão do crédito e uma taxa de desemprego baixa. Seriam ótimas notícias, não fosse a pressão inflacionária. “Quando olhamos, vemos que a economia está trabalhando acima do nível que gera inflação”, afirmou Campos Neto.

E nesse aspecto, observou, a expectativa da trajetória da inflação está desancorada.

“Iniciamos um ciclo gradual, temos escolhido não dar guidance [de aumento de juros] em relação ao que a gente vai fazer de juros, porque a gente acha que, como tem muita incerteza, é importante olhar no curto prazo ver o que está acontecendo”, afirmou.

Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, em uma decisão amplamente esperada pelo mercado.

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