Black Friday sustentável? Bioplástico compostável reduz impacto de embalagens

Por Kim Fabri

A Black Friday pode não ser a principal data promocional de vendas do varejo brasileiro. Mas, para o comércio online, seguramente, é a mais forte. O bombardeio de e-mails e posts de produtos “com desconto” a que somos alvo confirma a aposta. É a consolidação de um movimento que ganhou força na pandemia. O consumidor brasileiro entendeu que é possível comprar qualquer coisa sem sair de casa. E percebeu também o acúmulo de lixo que essa facilidade traz.

Cada item que bate à porta deixa também uma embalagem – ou várias. Um saco dentro de um outro saco, como uma boneca russa feita de resíduos. Uma boa notícia, no entanto, é que existem tecnologias, soluções, alternativas e empresas já sensíveis ao problema: alinhar os hábitos de compra (e a produção de resíduos) à urgência ambiental.

O lixo plástico é hoje um dos principais desafios da poluição ambiental, com proporções alarmantes. O Brasil, por sua vez, é o quarto maior produtor de resíduo plástico do mundo, com 11 milhões de toneladas ao ano, sendo que menos de 2% é reciclado. Descartado na natureza, o plástico derivado de petróleo pode levar mais de 200 anos para se decompor, e acaba nos oceanos, dentro dos animais marinhos, e até na corrente sanguínea de humanos.

Sob pressão crescente dos consumidores, um número maior de empresas tem buscado soluções para a gestão de resíduos plásticos. Esse movimento vai além do simples uso de alternativas, e reflete a adaptação necessária diante das mudanças no mercado e das iniciativas regulatórias globais, como o encontro para a formulação de um tratado global contra a poluição plástica, que ocorre, agora, na Coreia do Sul. É uma oportunidade (e uma demanda) para a indústria e o varejo liderarem uma transformação necessária, que passa pelo consumidor, mas não se reduz a ele.

Uma alternativa que responde às principais limitações dos plásticos tradicionais é o bioplástico. Desenvolvido com matérias-primas compostáveis, pode ser devolvido à terra como matéria orgânica, reduzindo o impacto nos aterros sanitários e eliminando o acúmulo de microplásticos. Enquanto os plásticos convencionais, mesmo quando recicláveis, enfrentam barreiras práticas e estruturais que limitam sua reutilização (inclusive de reciclagem), os compostáveis, como o ácido polilático (PLA) e os polihidroxialcanoatos (PHA), oferecem um caminho mais limpo.

Os bioplásticos permitem que a indústria plástica atenda à crescente demanda dos consumidores por soluções sustentáveis, sem a necessidade de uma reformulação radical de sua infraestrutura, ao contrário do papel e de outros materiais. É o caminho para fazer a transição sustentável de maneira suave e competitiva.

Além disso, os plásticos compostáveis oferecem uma pegada de carbono menor em comparação ao papel e outros materiais, proporcionando ao consumidor final a praticidade dos plásticos aliada à sustentabilidade dos compostáveis. Eles mantêm a conveniência, durabilidade e funcionalidade que os consumidores esperam dos plásticos, enquanto reduzem significativamente o impacto ambiental.

Especialmente aqui no Brasil, temos um enorme potencial para estabelecer uma cadeia de produção de biopolímeros que não só atende às demandas crescentes por plásticos sustentáveis, mas também contribui para o crescimento econômico e para a promoção da responsabilidade ambiental e social. A abundância de recursos naturais, como a cana-de-açúcar, e área cultivável criam um ambiente favorável para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva sustentável do produto.

Estudo conduzido pelo Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e publicado na revista científica Nature mostra que o Brasil pode substituir plásticos fósseis por bioplásticos de cana-de-açúcar sem afetar biodiversidade, recursos hídricos ou expandir áreas agrícolas, usando pastagens degradadas. A pesquisa projetou cenários até 2050, identificando que a utilização de 3,55 milhões de hectares de pastagens degradadas nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso seria suficiente para atender à demanda global por bioplásticos.

Investir na transformação sustentável da indústria plástica, por meio do bioplástico, é uma oportunidade de promover práticas agrícolas responsáveis, criar empregos e posicionar o país como referência em economia circular e inovação verde.

O comércio online faz parte deste processo e já tem marcas sensíveis ao tema. Tanto que essa Black Friday, seguramente, será mais sustentável para uma parte dos consumidores brasileiros. As vendas de bioplástico compostável da ERT cresceram 104% de julho a setembro deste ano (comparação com igual trimestre de 2023), período que concentra os pedidos para o fim do ano e, sobretudo, a Black Friday. O aumento é puxado pela produção de “bags de e-commerce” – os sacos plásticos que embalam as mercadorias do varejo até a casa dos clientes.

Há muito o que crescer e escalar, mas a mobilização já começou. A adoção de práticas responsáveis não é apenas uma resposta às demandas de mercado – e de consumo -, mas uma estratégia de sobrevivência em um mundo onde a sustentabilidade se torna imperativa.

* Kim Fabri é CEO da ERT Bioplásticos

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