Avanço tecnológico cria novas oportunidades para estagiários de Direito

Em agosto é comemorado o Dia do Advogado e o Centro de Integração Empresa Escola  – CIEE traz um bom motivo para os futuros profissionais comemorarem: uma pesquisa inédita, segundo a qual o Direito é uma das áreas que mais contratam estagiários no Brasil. A organização soma mais de 30 mil estagiários de Direito ativos em todo o país.

Entretanto, em seu banco de cadastro, a instituição soma 95 mil estudantes da área interessados em iniciar o estágio. Esse grupo é composto principalmente por mulheres, de 25 anos, e o maior volume de estudantes de Direito está concentrado na Região Sudeste (41 mil), seguido pelo Nordeste (19 mil), Centro-Oeste (15 mil), Norte (9 mil) e Sul (7 mil). A bolsa-auxílio tem valor médio de R$ 1 mil e esses estudantes estão concentrados majoritariamente em faculdades particulares.

Para Rodrigo Dib, superintendente Institucional e de Inovação do CIEE, a disparidade entre o volume de estagiários contratados e que esperam uma oportunidade é um alerta para a criação de mais perspectivas na área. “A área é a que mais contrata estagiários no país historicamente, mas o levantamento aponta que existe um gargalo para que esse estudante experiencie a graduação em sua totalidade”, conta.

Um dos principais impulsionadores da área jurídica é o desenvolvimento tecnológico, que tem gerado novas possibilidades de carreira, especialmente no direito digital, segundo Camilla Jimene, sócia e CEO do escritório Opice Blum Advogados Associados.

Onde estão as oportunidades

A advogada explica que, com o surgimento de legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Marco Civil da Internet, foram criados nichos especializados para advogados que lidam com privacidade, proteção de dados e regulamentação do ambiente digital.

Além disso, áreas como a de propriedade intelectual sobre software e resposta a incidentes cibernéticos passaram a exigir conhecimentos técnicos específicos, criando oportunidades para profissionais que se dedicam exclusivamente a esses temas.

“Outra nova e promissora área de atuação para quem se forma em Direito são as legaltechs, ou lawtechs”, destaca Camilla. Essas empresas, muitas delas startups, utilizam os conhecimentos jurídicos do profissional para desenvolver soluções que automatizam processos, facilitam a gestão de documentos, aprimoram a análise de dados jurídicos e melhoram a comunicação entre advogados e clientes.

Trata-se de uma carreira que mistura Direito e Tecnologia, por isso, não exige a prestação do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), já que não envolve o exercício tradicional da advocacia.

Menos burocracia, mais análise de dados

A tecnologia também está mudando a forma com que os profissionais executam seu trabalho, segundo a pesquisa Formando a Advocacia do Presente e do Futuro: Habilidades e Perspectivas de Atuação, do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) da Fundação Getulio Vargas – Escola de Direito de São Paulo (FGV Direito SP).

O estudo aponta que grandes escritórios de advocacia já incorporaram amplamente tecnologias como sistemas de gestão de processos judiciais e inteligência artificial para análise de dados e predição de resultados, automatizando tarefas repetitivas e burocráticas.

Com isso, passaram a demandar profissionais com habilidades e competências que vão além do conhecimento jurídico tradicional (requisito que continua sendo essencial). (veja quadro)

No escritório de advocacia Daniel Law, por exemplo, a introdução da inteligência artificial automatizou tarefas antes delegadas aos estagiários, como a redação de petições simples e procurações, segundo a advogada Renata Ide, sócia da empresa.

“Isso liberou os jovens profissionais para se dedicarem a tarefas mais complexas e intelectualmente desafiadoras, que exigem interpretação de dados e pensamento crítico”, afirma.

A capacidade de trabalhar em equipes multidisplinares está entre as principais habilidades esperadas de um estagiário no escritório Opice Blum, segundo Camilla Jimene.

“Temos profissionais de outras áreas, como redatores, linguistas, designers e especialistas em análise de dados, que colaboram para melhorar a entrega de serviços jurídicos”, afirma.

A advogada destaca também a necessidade de que o advogado consiga utilizar uma linguagem clara e sem jargões, tornando a comunicação jurídica mais acessível e eficaz.

Para desenvolver essas novas competências, uma vez que as faculdades de Direito, em sua maioria, ainda apresentam lacunas significativas no currículo tradicional, a dica para os estudantes, de acordo com Camila Costa, gerente de Gente&Cultura no escritório Nelson Willians Advogados, é buscar ativamente oportunidades de desenvolvimento.

“Fazer cursos de curta duração, participar de workshops e conversar com profissionais da área são boas maneiras de adquirir essas habilidades que são cada vez mais demandadas pelo mercado.”

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