*De Baku
Negociadores alcançaram um marco importante no primeiro dia da Conferência do Clima (COP29), no Azerbaijão, com a aprovação das diretrizes do artigo 6, do Acordo de Paris, para regulamentação internacional do comércio de créditos de carbono, superando anos de impasses nas discussões sobre este mercado. O instrumento aprovado estabelece as bases para o mercado global de carbono sob supervisão da ONU.
Além de auxiliar países em desenvolvimento a financiar sua adaptação climática, a mudança também oferece aos maiores emissores, mecanismos para redução de suas emissões – um resultado particularmente positivo para o país anfitrião, Azerbaijão, nesta etapa que antecede discussões mais complexas sobre financiamento e considerando as muitas ausências de grandes chefes de estado nesta edição da cúpula.
Embora comemorada pelos presentes na reunião, sobretudo em meio cenário político americano que, após vitória de Donald Trump, adiciona certa complexidade às negociações, a aprovação acelerada foi criticada por parte dos especialistas em mercado de carbono. Isa Mulder, especialista em políticas do mercado global de carbono da Carbon Market Watch, declarou que o acordo teria sido costurado em bastidores e cria um precendente ruim pela falta de transparência e governança adequadas.
Efeito Trump X luta irreversível
Em paralelo às negociações, acontecia em outra plenária, lotada, o discurso de John Podesta, conselheiro sênior de Joe Biden para política climática internacional e principal representante dos EUA na COP. Em sua fala, Podesta reconheceu que as ações climáticas podem desacelerar com o retorno de Trump, mas defendeu que a transição energética é irreversível. Principal autoridade climátida em seu país, o enviado de Biden destacou ainda que os US$ 370 bilhões previstos em incentivos verdes devem permanecer, com apoio inclusive de governadores republicanos.
Ao longo de sua última campanha, Donald Trump prometeu, entre outras coisas, aumentar a exploração de combustíveis fósseis e uma possível saída dos EUA do Acordo de Paris. E já deu o sinal de que a política ambiental americana sofrerá mudanças significativas ao nomear o ex-deputado Lee Zeldin para a direção da Agência de Proteção Ambiental do Estados Unidos (EPA). O parlamentar é conhecido por ter contestado as eleições de 2020 e não tem experiência em políticas ambientais.
A confirmação da saída do Acordo de Paris significaria o abandono das metas de redução de emissões por parte da maior economia do mundo, que poderia culminar em uma possível redução no apoio financeiro aos países em desenvolvimento, num momento em que cientistas alertam sobre o risco de um aquecimento “catastrófico” acima de 3°C.
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