Após explosões no Líbano, Conselho de Segurança discute a escalada entre Israel e Hezbollah

O Conselho de Segurança da ONU está reunido em Nova York para avaliar a recente e preocupante escalada de violência entre Israel e o grupo libanês Hezbollah, em meio à explosão de equipamentos eletrônicos e pagers — atribuídas aos israelenses — e à série de bombardeios e lançamentos de foguetes dos dois lados da fronteira. Nas falas iniciais, representantes da organização afirmaram que os ataques são “alarmantes”, citando o uso de pagers e walkie-talkies como instrumentos de guerra, e a China pediu uma investigação internacional sobre os incidentes.

Na abertura da reunião, Rosemary DiCarlo, subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Construção da Paz, disse que os incidentes desta semana são “eventos alarmantes”, que agravam uma situação já tensa vivida desde outubro de 2023, quando teve início um conflito até agora controlado entre Israel e o Hezbollah.

— Esses ataques mútuos foram uma violação repetida da cessação das hostilidades e uma violação da resolução 1701 [do Conselho de Segurança] — afirmou DiCarlo, em referência à resolução, de 2006, que retificou o cessar-fogo no conflito daquele ano envolvendo Israel e o Hezbollah, e que estabeleceu uma zona desmilitarizada ao longo da fronteira. Segundo ela, mais de 100 mil pessoas foram deslocadas do sul do Líbano, e 60 mil do norte de Israel, devido aos combates.

A subsecretária-geral declarou ainda que “as trocas de tiros causaram inúmeras baixas, incluindo civis, e danos significativos a casas, infraestrutura civil e terras agrícolas”, e que “o risco de expansão adicional deste ciclo de violência é extremamente sério e representa uma grave ameaça à segurança do Líbano, Israel e toda a região”.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, citando os ataques contra pagers e walkie-talkies, uma operação de longo prazo da inteligência israelense, disse que eles “representam um novo desenvolvimento na guerra, onde ferramentas de comunicação se tornam armas”.

— Este não pode ser o novo normal — disse Türk, observando que “a guerra tem regras para cada parte deste e de qualquer outro conflito armado”. — Autoridades teriam desativado dispositivos não detonados em universidades, bancos e hospitais. Isso desencadeou medo, pânico e horror generalizados entre as pessoas no Líbano, que já sofrem em uma situação cada vez mais volátil desde outubro de 2023 e desmoronam sob uma crise econômica severa e de longa data.

Robert Wood, representante dos EUA, maior aliado de Israel, disse que não é interesse do Oriente Médio ter uma nova guerra, ao mesmo tempo em que voltou a negar qualquer participação de Washington nos ataques contra o Hezbollah — e tampouco expressou juízo de valor sobre eles, repetindo a linha adotada pelo Departamento de Estado desde terça-feira. Na fala, citou os lançamentos de foguetes pelo Hezbollah desde outubro do ano passado, acusou o grupo de ignorar as determinações das Nações Unidas, e disse que “uma resolução diplomática” é a única maneira para permitir que os civis das áreas de fronteira voltem às suas casas.

— Antes dos ataques terroristas brutais do Hamas, a calma foi mantida em grande parte ao longo da Linha Azul [que demarca a divisa entre Líbano e Israel] por 18 anos, desde a adoção da resolução 1701 — disse o diplomata, afirmando que essa relativa calma“foi quebrada” em outubro do ano passado. — Nos últimos 11 meses, o povo do Líbano sofreu as consequências devastadoras deste conflito, que não é deles.

Em seguida, a China defendeu uma investigação imediata sobre as explosões dos pagers e walkie-talkies, e que os responsáveis sejam julgados de acordo com as leis internacionais, e defendeu que todos os atores envolvidos nas tensões evitem um conflito fora de controle.

— Pedimos a Israel, em particular, que desista de sua obsessão com o uso da força e que suspenda, sem mais demora, suas operações em Gaza — afirmou o representante do país na reunião.

Em sua fala, o representante da Coreia do Sul, que integra o Conselho de Segurança como membro não-permanente, questionou a legalidade, dentro das regras internacionais de conflitos armados, do uso de equipamentos eletrônicos de comunicação como explosivos. Já o representante da Argélia, com quem Israel não tem relações diplomáticas, disse que as ações dos últimos dias são um “crime de guerra”, e que as ações “abriram uma caixa de Pandora”.

Na terça e na quarta-feira, explosões de pagers e walkie-talkies deixaram dezenas de mortos e milhares de feridos ao redor do Líbano, em um ato atribuído a Israel e que teria como alvo integrantes do Hezbollah. O ataque deixou o já precário sistema de saúde libanês sobrecarregado, com hospitais lotados e incapazes de tratar as muitas vítimas em estado grave, e outros países da região, incluindo Egito, Iraque e Jordânia, enviaram ajuda médica.

Nesta sexta, após uma série intensa de combates nas últimas 24 horas, a aviação israelense bombardeou Beirute, alegando se tratar de um ataque “direcionado”, e que tinha como alvo Ibrahim Aqil, um alto comandante do Hezbollah buscado pelos EUA por seu papel em ataques que deixaram centenas de mortos nos anos de 1980. Ao todo, o bombardeio deixou 14 mortos na cidade.

Os israelenses dizem que não buscam uma escalada, e que estão “operando de acordo com os objetivos definidos [da guerra] “. Na véspera, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, acusou Israel nesta quinta-feira de violar “todas as convenções e leis”, classificando as detonações de walkie-talkies e pagers-bomba nos últimos dois dias de “declaração de guerra” contra o povo do Líbano.

Desde o começo da semana, Israel tem sinalizado que planeja mover parte de seu efetivo militar para a fronteira com o Líbano, com o objetivo, segundo o premier, Benjamin Netanyahu, de permitir que a população da área possa regressar às suas casas. Contudo, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, sinalizou que isso só seria possível “com uma ação militar”, e generais têm pressionado, nos bastidores, pelo lançamento de uma operação por terra para criar uma “zona de segiurança”, similar à que os israelenses tentam estabelecer na Faixa de Gaza.


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