A reeleição de Donald Trump traz implicações significativas para o Brasil, especialmente em setores estratégicos como o agronegócio, a mola percursora da economia. O retorno de Trump, com uma postura notoriamente protecionista, impõe um cenário de competição intensa e pressões fiscais, afetando diretamente as exportações, o acesso a mercados e a política monetária no Brasil.
No passado recente, ainda no primeiro mandato, Trump deixou claro seu compromisso com o protecionismo, investindo pesado no apoio ao setor agrícola dos Estados Unidos. Esse incentivo ao agro americano coloca o Brasil em uma posição desafiadora, forçando o país a diversificar seus mercados e a buscar maior competitividade global para reduzir a dependência do mercado norte-americano.
Se no passado conseguimos aproveitar as sanções impostas por Trump à China para aumentar nossas exportações de commodities, agora a repetição desse cenário exige uma estratégia ainda mais cautelosa e bem estruturada.
A continuidade dessa política tarifária pode abrir brechas no mercado chinês, beneficiando o Brasil, mas a competição aumentada dos EUA requer que o agro brasileiro eleve sua competitividade e busque novos parceiros comerciais.
Além disso, o ambiente protecionista nos EUA afeta o campo de crédito. As relações comerciais influenciam diretamente as taxas de juros no Brasil e o acesso ao financiamento agrícola e às proteções como seguros de safra, especialmente em um cenário de mudanças climáticas.
Com a volatilidade nos mercados globais, o crédito rural brasileiro tende a enfrentar maior pressão. Essa nova realidade demanda políticas de crédito robustas para garantir a segurança financeira do agro em um ambiente cada vez mais incerto e competitivo.
A recente elevação da taxa Selic pelo Banco Central, de 10,75% para 11,25% ao ano, evidencia essa pressão externa. Foi o segundo ajuste em 2024, e tudo indica que o Brasil ainda enfrentará uma série de aumentos nos juros.
O impacto é direto: além de encarecer o crédito para o setor agrícola e para a economia em geral, a alta na Selic reflete a necessidade de manter a inflação sob controle em um ambiente de risco fiscal crescente. A expectativa é de que o Brasil precise adotar medidas fiscais rigorosas, com cortes de gastos na ordem de 30 a 40 bilhões de reais em 2025, para evitar que a inflação se descontrole e para manter uma margem de estabilidade econômica.
Trump 2, portanto, traz desafios monumentais e oportunidades estratégicas. Ao mesmo tempo que a desvalorização do real impulsiona as exportações brasileiras, há uma necessidade premente de ajustar políticas internas para dar suporte ao setor agro e à economia, preparando-os para um cenário de volatilidade global.
Como presidente de um banco, é evidente a importância de uma política de crédito adequada e de uma disciplina fiscal rígida para enfrentar os impactos de um cenário global protecionista e desafiador, aproveitando as oportunidades que surgem sem negligenciar a resiliência econômica do Brasil.
WOLNEY ARRUDA – presidente do Banco Plantae, produtor rural e administrador de empresas.
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