Horas após o acordo de US$ 8,5 bilhões fracassar com a dona da Coach na quinta-feira, o CEO da Michael Kors, John Idol, fez uma ligação de última hora. Tentou tranquilizar os investidores de que a marca, apesar dos números fracos de vendas, poderia seguir sozinha, segundo o Financial Times.
“Sabemos que não estamos tendo o desempenho que a empresa deveria ter”, disse ele, em sua primeira ligação com analistas em mais de 15 meses. Enquanto a empresa esperava para ser adquirida, deu uma série de “passos em falso”. Não se concentrou no planejamento de longo prazo e aumentou os preços muito rapidamente.
O cancelamento do acordo após a resistência dos reguladores antitruste joga a Michael Kors em território incerto em um momento complicado para marcas de luxo. Os consumidores estão gastando menos e certas regiões estão passando por desacelerações econômicas preocupantes.
A China, um mercado que as casas de moda haviam conquistado na última década, tem sido um ponto particularmente sensível.
Acordo bloqueado na Justiça
O acordo entre a Tapestry — dona da Coach, Kate Spade e Stuart Weitzman — e a Capri — dona da Michael Kors, Versace e Jimmy Choo — desmoronou depois que as empresas passaram meses lutando contra reguladores antitruste nos EUA. Comissão Federal de Comércio (FTC, em inglês) argumentou que unir as marcas levaria a preços mais altos e bolsas de qualidade inferior.
O cancelamento do negócio ocorre três semanas depois que um juiz federal congelou o acordo antes de novos procedimentos perante a FTC. A união proposta tinha ambições de criar um rival americano para gigantes europeus de luxo como LVMH e Kering.
O que vai ser da Michael Kors?
Horas após o acordo ter sido congelado no mês passado, o preço das ações da Capri caiu pela metade, para US$ 21, já que os investidores admitiram que a oferta original de US$ 57 por ação estava fadada ao fracasso. A Capri não receberá uma taxa de rescisão, mas será reembolsada em US$ 45 milhões pelos custos legais, segundo o FT.
A Tapestry é amplamente considerada o negócio mais forte. Já a Capri tem lutado para se manter no negócio. A receita da Michael Kors, a maior marca da Capri, caiu 16% neste ano. Ela perdeu participação em todos os mercados, impulsionada por uma queda de 43% na China.
O próprio Michael Kors, diretor de criação de sua marca homônima, testemunhou durante o julgamento em Nova York que a empresa havia sofrido “fadiga de marca” recentemente. As tentativas da empresa para cativar os consumidores atingiram uma “estagnação”, ele acrescentou.
Enquanto a Capri traça seu caminho como um negócio autônomo, o CEO John Idol foi sincero na ligação com os investidores de que sua estratégia atual não estava funcionando. Para corrigir sua trajetória financeira nos próximos dois anos, a empresa fechará cerca de 75 lojas Michael Kors e reformará outras 150.
Idol também abordou o que ele considera o maior obstáculo nos próximos meses. “Nossa maior preocupação é a China”, disse ele. “Não sabemos como ou quando a situação econômica se estabilizará lá.” Embora a empresa tenha investido pesadamente no país no passado, ela mudará o foco para a América do Norte. Isso sem contar a eleição de Donald Trump, que já prometeu taxas pesadas contra produtos chineses, o que pode azedar ainda mais a relação entre os dois países.
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