Dez anos após desaparecimento de 43 estudantes no México, caso segue sem conclusão

Uma década após o desaparecimento de 43 estudantes na cidade de Iguala, no México, pais e familiares ainda buscam respostas sobre o que aconteceu naquela noite de 26 de setembro de 2014. Entre eles está Clemente Rodríguez, pai de Christian Rodríguez, um dos alunos desaparecidos, que transformou seu corpo em uma espécie de memorial para o filho com diversas tatuagens. O jovem, então com 19 anos, desapareceu junto com seus colegas após serem sequestrados por autoridades locais, ligadas a um cartel de drogas. As informações são da AP.

Desde o trágico episódio, as famílias dos estudantes realizam, a cada mês, protestos e manifestações para exigir justiça e explicações. A luta incansável ganhou ainda mais força com o apoio de organizações de direitos humanos, que denunciam a violência, corrupção e impunidade que marcam o caso, refletindo um problema estrutural no México, onde mais de 115 mil pessoas continuam desaparecidas.

Investigações e novas descobertas

Nos anos seguintes ao desaparecimento, as autoridades mexicanas ofereceram diversas explicações para o caso, mas nenhuma conseguiu esclarecer o paradeiro dos jovens de maneira conclusiva. A versão oficial do governo do então presidente Enrique Peña Nieto, que afirmava que os corpos dos estudantes foram incinerados em um lixão por criminosos, foi amplamente contestada. Grupos de investigação, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, apontaram falhas graves na narrativa e acusaram autoridades de plantarem evidências, como fragmentos de ossos, para sustentar a versão oficial.

Durante o governo de Andrés Manuel López Obrador, o caso ganhou novos desdobramentos. A administração atual refutou a versão da incineração e, embora tenha identificado mais fragmentos ósseos de alguns estudantes, as famílias ainda não receberam uma resposta definitiva. Para Clemente Rodríguez, que acredita que seu filho ainda está vivo, a busca continua.

A mobilização dos pais

Desde o desaparecimento, os pais dos estudantes decidiram tomar a iniciativa e começaram a procurar por seus filhos em regiões remotas e perigosas, muitas vezes controladas por gangues. Essa busca os colocou em contato com outras famílias de desaparecidos, revelando a magnitude do problema no México. Durante essas expedições, os pais encontraram corpos e vestígios de violência, mas nenhum dos estudantes desaparecidos.

A luta prolongada impactou profundamente a vida dessas famílias. Clemente Rodríguez, que antes trabalhava vendendo água e criando animais, abandonou suas atividades para se dedicar à busca por seu filho. Ele e sua esposa, Luz María Telumbre, encontraram apoio na Escola Normal Rural de Ayotzinapa, onde os estudantes desaparecidos estudavam. A escola se tornou um símbolo de resistência e luta, e os pais são tratados com respeito e carinho pelos estudantes que continuam a mobilização por justiça.

Justiça e frustração

Apesar das promessas do governo de López Obrador de investigar o caso a fundo, os pais expressam frustração com a falta de respostas concretas. Em agosto deste ano, eles se reuniram pela última vez com o presidente, mas saíram decepcionados. Para Clemente Rodríguez, o governo atual tem se comportado de forma semelhante à administração anterior, escondendo informações e protegendo autoridades militares que, segundo ele, têm conhecimento do que realmente aconteceu naquela noite.

O governo prendeu várias pessoas envolvidas no caso, incluindo o ex-procurador-geral, acusado de obstrução da justiça. No entanto, o papel do Exército mexicano no desaparecimento dos estudantes continua sendo um ponto sensível. López Obrador já reconheceu que o caso foi um “crime de Estado”, envolvendo autoridades de diversos níveis, mas tem evitado aprofundar as investigações sobre o papel das Forças Armadas.

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